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Desde que comecei a escrever para o jornal tenho recebido e-mails de todo tipo de pessoas com todo tipo de perguntas e dúvidas a respeito de relacionamento e sexualidade. Algumas perguntas ou comentários são muito comuns tanto entre os homens quanto em mulheres.

Ao longo desta semana fiquei pensando na época em que eu tinha meus vinte e poucos anos, lá nas décadas de 80 e 90. Claro que muita coisa mudou desde aquela época mas não podemos negar que parte do que somos hoje é fruto do que vivenciamos no passado. Quando penso em como vivenciávamos nossa sexualidade, nossas relações afetivas percebo que hoje ainda há mulheres que correspondem às expectativas do homem, além de representarem um papel feminino com pouco interesse pelo sexo. Não é incomum as mulheres desta geração sentirem pouco ou nenhum interesse sexual, principalmente as casadas.

Nas décadas de 80 e 90 o jogo da sedução e da conquista era o homem insistir na investida sexual e a mulher dizer não. A grande maioria dos jovens nessa época vivenciaram muito esta experiência, lembro-me como se fosse hoje. Era literalmente um jogo de conquista em que os homens apostavam em seu sucesso e as mulheres, no dia seguinte, ficavam ao lado do telefone passivamente esperando um alô daquele pretendente. Quanto mais o homem investia mais a mulher recusava. Ela queria tanto quanto ele, mas tinha que se conter porque de outra forma era taxada de “fácil” e mulher fácil não merece respeito e nem era pra casar. Parecia um jogo em que o único vencedor deveria ser o homem, pois só ele poderia sentir aquele tesão torturante que ambos sentiam mas apenas um poderia expressar. Não tenho dúvidas de que foi uma época de muito tormento para homens e mulheres. Além do tesão que obviamente sentíamos por sermos pessoas normais de carne e osso, tínhamos que lutar com a culpa que sentíamos em estar permitindo intimidade a um homem. O que isso significava era que o desejo e prazer feminino eram desconsiderados. Não podíamos relaxar um segundo. Sabíamos que se permitíssemos nos entregar ao deleite do momento seríamos descartadas e rotuladas de “fácil”. Na verdade vivíamos aprisionados, homens e mulheres, a uma moral antissexual em que ambos eram privados de sentir de forma genuína e plena o prazer da troca de sensações eróticas.

Creio que essa pode ser uma das explicações para muitas mulheres se esquivarem do sexo. Muitas pensam que “não nasceram para o sexo”. Ora, ninguém nasce para o sexo ou qualquer outra coisa. Nascemos para viver a vida da melhor maneira possível dentro da normalidade que convém a cada um sem, é claro, ultrapassarmos os limites da própria integridade e a do outro. Não são poucas as mulheres que temem ou se sentem usadas. São mulheres que dizem coisas do tipo “os homens só querem sexo”; assim como é comum ouvir dos homens que suas mulheres são frias e nunca tomam iniciativa. Mas afinal, fomos treinadas para isso. Somos experts em bloquear nossos desejos em prol de uma imagem de mulher de respeito e os homens treinados a respeitar a mulher difícil. Naquela época haviam dois tipos de mulher “as Marias e as Evas”. As Marias se casavam mas as Evas ... Não sabíamos que estávamos atirando em nossos próprios pés. A divisão das mulheres entre Marias (mulheres direitas) e Evas (mulheres fáceis) contaminou e frustrou tanto o homens quanto mulheres.

Hoje, os homens reclamam de suas esposas “frias” que parecem não gostar de sexo pois não tem iniciativa e suas mulheres reclamam por não se sentirem “procuradas” por eles e quando são, se sentem sós e usadas pois consideram seus maridos insensíveis e incapazes de satisfazê-las. Muitos casais daquela época se separaram.

Algumas mulheres que se separaram redescobriram, no convívio com outro homem, o que elas nunca vivenciaram com seus maridos. Muitos homens foram em busca de mulheres mais “quentes” e ativas que os satisfaçam. Espero que este texto sirva como reflexão para que possamos entender melhor como as coisas acontecem com a gente ao longo do tempo. Não somos culpados mas também não somos vítimas das circunstâncias. Devemos sempre procurar compreender quem está ao nosso lado bem como a cultura que nos molda, entendendo que temos uma contribuição no sentido de transformar nossos relacionamentos e vida sexual em momentos mais satisfatórios e enriquecedores.

Até a próxima.

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