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O Código de Postura do Município de Teixeira de Freitas, promulgado desde 1987, foi ressuscitado em seu artigo 177, apesar do seu desuso desde a vigência, mas que em 2010 está sendo rigorosamente cumprido em decorrência da vulnerabilidade acerca da violência que caminha a passos largos pelas ruas da cidade e que representa os traços da desigualdade social que aflige a população.


Fechar os estabelecimentos comerciais aos domingos e feriados às dez horas da noite e nos dias úteis à meia noite é o que manda a Lei. A ordem visa promover a reclusão, a clausura dos cidadãos, inclusive daqueles que curtem a vida noturna, mas será isso verdadeiramente necessário no combate à violência?


É certo que o assunto é polêmico e tem dado pano pra manga, assim como algumas cidades no Estado de São Paulo exigem o toque de recolher aos jovens e crianças a partir das 20 horas. Afinal, o que poderá estar fazendo uma criança de 10 a 12 anos nas ruas depois das 8 horas da noite? Ou quais planos terão um adolescente de 14 anos perambulando pelas vias públicas da cidade das 10 horas em diante enquanto sua família assiste a violência pela TV? E por que os homens e mulheres bebem em bares após as 22 horas? São perguntas complexas, mas o propósito de limitar as atitudes do público teixeirense indica que alguma coisa está errada.


Quanto do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Ministério da Justiça, após um levantamento de 266 municípios com mais de 100 mil habitantes, divulgaram que a cidade de Teixeira de Freitas estava entre as dez cidades brasileiras que expõe os jovens entre 12 e 29 anos à violência, foi um susto e a sociedade não aceitou a estatística.


Agora, com a mesma ênfase nos deparamos com a redução dos índices de violência anunciada pelas autoridades já como resultado da medida restritiva ao comércio que tem apenas 3 meses de fiscalização, por ser uma medida que propõe evitar que o trabalhador chegue em casa bêbado, sentando a bordoada na esposa e filhos. A medida visa promover aos motoristas que trafeguem lúcidos por não terem opção de embriagar-se às tantas horas da noite, mas por outro lado reduz as atividades econômicas dos empresários que exploram o terceiro turno e limitam a liberdade daqueles que saboreiam a diversão no horário noturno. Realmente tem algo errado...


Uma recente pesquisa do Instituto Datafolha mostra que mais de 1/3 da população jovem sofre presença constante da violência em seu cotidiano, e a culpa disso é mesmo da rua? Nessa análise será necessário conhecermos melhor nossa sociedade, estudar os aspectos sociológicos que levam nossos jovens a divertir-se fora de casa para convocar a um pacto de readaptação das nossas atitudes ou então reensinar para que nossas crianças aprendam melhor a cooperar ao invés de competir umas com as outras. Digo as crianças porque aos adultos, infelizmente, muitas vezes a repressão tem sido o melhor remédio.

Somos filhos de um modelo importado, uma visão norte-americana imposta pelo império econômico dos Estados Unidos que nos ensinaram a competir, a comprar produtos no lugar de buscarmos a felicidade, nos apresentaram os super heróis como se fosse solução dos nossos problemas. A alegria se tornou sinônimo de consumo e satisfação é o carro chefe das vendas de bens materiais. Mas tudo isso não passa de ilusão..


Nossa sociedade surgiu dos índios, dos negros, de um povo diferente desse consumidor compulsivo. Por natureza somos um povo cooperativo, comunitário e essencialmente socialista. Aí é onde reside o conflito.  A competição pode ser saudável em determinado momento, mas a cooperação é essencial para o convívio humano, sob qualquer regime social.

A ciência nos mostra os perigos da competição como ensinamento nos primeiros anos de vida. É grande a diferença entre sair-se bem entre todos e procurar sair-se melhor do que os outros. Estamos promovendo uma sociedade que incita o ódio aos derrotados, àqueles que são excluídos pelo baixo poder aquisitivo ou que não alcançam o sucesso determinado pela sociedade de consumo. E são esses mesmos excluídos, oprimidos, que não podem suportar a incompreensão, e bebem após as 22 horas e muitas vezes podem se tornar o caos. Mas também os opressores, infelizes, que também bebem e fazem arruaças no trânsito após sua bebedeira, e extrapolam o limite da segurança e do respeito ao próximo, complementando o mesmo caos. Enfim, somos nós mesmos quem estamos competindo e deixando de lado a cooperação.

Uma mudança tem que acontecer desde o começo da vida. As escolas precisam compreender suas falhas e trabalhar a pedagogia da cooperação. Quando nossos jovens compreenderem o sentido do respeito por si próprio e pelo seu semelhante, estaremos compreendendo o segundo mandamento: Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás ao teu próximo como a ti mesmo – Lv 19-18. E assim, os horários comerciais não serão mais motivos para redução da violência em nossas vidas nem tão pouco a bebida se transformará em amargor.


Condenar as ruas pelos malditos resultados violentos é como culpar as chuvas pelas enchentes de verão.