Teixeira de Freitas: “Vi ontem um bicho Na imundície do pátio, Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.”
Este belo poema “O bicho”, de Manuel Bandeira, foi publicado em 1948 e é testemunha de seu tempo e das mazelas sociais de então. É um poema atemporal, pois mais de seis décadas se passaram e vivenciamos o mesmo problema. O problema dos lixões e do ser humano às margens da sociedade, animalizado pela degradação que o alcança física e psicologicamente e, não por sua escolha, mas em face dos descasos dos órgãos competentes, da própria sociedade e da falta de oportunidades.
Esse que vos escreve não se conteve ao ver crianças revirando lixos em um bairro de nossa cidade. A cidade em que também foi criança um dia e que apesar de todas as dificuldades na infância não precisou revirar lixo. Quantas crianças no Brasil passam por isso? Inúmeras. Os dados são alarmantes. Estima-se que 50.000 crianças no país vivem nos lixões e ganham em média de R$ 1,00 a R$ 6,00 reais/dia. Em alguns lixões mais de 30% das crianças em idade escolar nunca foram à escola. Além da dificuldade para garantir a sobrevivência, sentem-se humilhadas, sofrem preconceitos por serem "crianças do lixo".
Faz-se aqui, um apelo às autoridades, às ONG’s, às entidades organizadas de classes e à sociedade em geral: Vamos fazer alguma coisa. Não podemos mais permitir que nossas crianças percam sua infância em situações humilhantes, subumanas. Elas precisam estudar, precisam acreditar num futuro promissor. Voltando ao poema acima – com palavras simples e singelas, Bandeira produz frases poéticas que comove e desperta para a reflexão: O que estamos fazendo? O que podemos fazer?
Por: Edvaldo Alves/Liberdadenews