Nos alojamentos das universidades federais, mais vazios do que nunca por conta da Covid-19, há medos e lutas, além de muitas paredes precisando de reboco, pintura e reparos de segurança.
Em 2021, o valor destinado para assistência estudantil no ensino superior, que paga auxílios como alimentação, transporte, médico e moradia, é o menor da década (em valores atualizados pelo IPCA). Desde 2012, chegou ao pico em 2015, com R$ 1.25 bi e, em 2021, está em R$ 865 milhões, uma queda de 31%. Na última década, no entanto, as matrículas nas universidades federais aumentaram em 60%.
— Vivo com R$ 300 que ganho do meu pai. Não consegui nenhum auxílio ou bolsa da universidade. Por isso, comecei a vender doces no alojamento — conta Arícia Vidal, de 26 anos, aluna de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a maior do país.
Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), houve mobilizações. Um grupo de estudantes da graduação criou uma arrecadação de alimentos para universitários que não conseguiram nenhuma bolsa. Em outra vaquinha, alunas da pós-graduação iniciaram campanha para construir um muro no entorno do alojamento após uma das moradoras sofrer, em março, uma tentativa de estupro na porta do local.
Reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), instituição que tem o maior número de alunos (2.600) em alojamentos, Paulo Burmann diz que os prédios foram construídos há 40 anos e precisam de reformas. Elas começaram em 2020, mas correm o risco de serem interrompidas.
— A menos que haja aumento no orçamento, não vamos conseguir acabá-las — afirma Burmann, vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Segundo o painel de cortes da associação, o valor para investimentos, como reformas de prédios, caiu 70%, comparando 2020 com 2021, de R$ 556 milhões para R$ 168 milhões. Na UFRJ, um bloco inteiro, que nunca havia sido reformado, pegou fogo em 2017 e até hoje não foi recuperado.
O Ministério da Educação alegou que está reunindo esforços para recompor o orçamento da assistência estudantil, o que, segundo a pasta, pode ocorrer “com a evolução do cenário fiscal no 2º semestre”.
Fonte: Agência O Globo