O técnico do Bahia Roger Machado receberá a Medalha Zumbi dos Palmares, uma honraria concedida à pessoas, grupos ou entidades que se destacam em diversos âmbitos da sociedade, na luta pelo combate à prática do racismo e a favor da cultura afro-brasileira. A homenagem foi aprovada por unanimidade nesta terça-feira, 19, na Câmara Municipal de Salvador.
A proposição foi apresentada pelo vereador Sílvio Humberto (PSB), que destacou a importância das declarações do homenageado confirmando a existência do racismo no Brasil, “que ecoou em todo o país e chamou atenção para a necessidade do combate à intolerância racial”.
Roger também será reconhecido como cidadão de Salvador, desta vez por iniciativa da vereadora Aladilce (PCdoB). As honrarias serão entregues em sessões solenes que ainda serão agendadas.
O treinador se destacou no âmbito no dia 12 de outubro na partida entre Bahia e Fluminense. Na ocasião, Roger e Marcão, os dois únicos técnicos negros da Série A do Campeonato Brasileiro, vestiram camisetas com o slogan “Chega de preconceito”.
No final da partida, em entrevista coletiva, o comandante do Bahia utilizou o seu espaço na imprensa para discursar contra o racismo.
"Quando eu respondo às pessoas dizendo que eu não sofri preconceito diretamente, a ofensa, a injúria, ela é só o sintoma dessa grande causa social que nós temos. Porque a responsabilidade é de todos nós, mas a culpa desse atraso, depois de 388 anos de escravidão, é do Estado, é através dele que as políticas públicas, que nos últimos 15 anos foram instruídas, que resgataram a autoestima dessas populações, que ao longo de muitos anos tiveram negadas essas assistências básicas, elas estão sendo retiradas nesse momento. Na verdade, esses casos que vêm aumentado agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, é o sintoma", afirmou.
O treinador também falou sobre a importância de enfrentar o problema não só no futebol. "Nós negamos. 'Ah, não fala sobre isso. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial'. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: 'Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui'. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui", ratificou.
Fonte: Atarde