Caravelas: A cidade mantém vivas ás suas manifestações culturais na sede e os distritos de Rancho Alegre, Ponta de Areia e Barra cultiva a tradição dos Mouros x Cristãos que passa de geração para geração. Este ano, as ruas do centro histórico foram tomadas por soldados Mouros e Cristãos, que travam uma batalha histórica. No dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, encerraram as festividades em Caravelas sede com uma missa presidida pelo Padre Ronaldo Cardoso de Oliveira na Igreja Co-Catedral de Santo Antonio.
Os festeiros deste ano foram os cortadores. Várias personalidades caravelenses estiveram em lados opostos como: Capitães Piaba e Zé Antonio e o Embaixador Luiz de Piaba fizeram parte dos Cristãos. Já os Capitães Nei, Nonato e Embaixador Adilson fizeram parte dos Mouros. Esta é uma história milenar que sobrevive em estórias e eventos diversos no folclore brasileiro, os quais destacam Carlos Magno como herói do cristianismo.
Estórias de poetas populares contadas e cantadas em prosa e verso, principalmente na literatura de cordel. Estórias também como textos-matrizes das representações dramático-coreográficas das congadas, alardos e cheganças, com seus cantos e ritmos de conjuntos instrumentais. É mais explícito ainda, nas versões da cavalhada, grande teatro a cavalo no qual cavaleiros armados revivem com intensa simbologia a guerra santa das cruzadas. Com toda a sua fabulação-mitificação, a raiz deste mote Mouros/Cristãos, encontra-se na história real do ocidente, na Idade Média, e reforça o capítulo da imposição da supremacia cristã sobre o islamismo.
Em Caravelas, extremo sul da Bahia, vamos encontrar o alardo chamado Mouros e Cristãos. Alardo é teatro dramático folclórico, na mesma linha da congada, que simula luta entre dois grupos. São duas facções inimigas: os “soldados mouros”, que roubam a imagem de S. Sebastião, cuja festa se comemora, levando-a sorrateiramente para o outro lado do rio que banha a cidade; e os “soldados cristãos”, guardiões da fé, responsáveis pela devolução do ícone à igreja. Os dois grupos têm espadas como arma. Legítimo teatro ao ar livre, conta com a participação da comunidade e desenvolve-se em dois dias.
O ponto culminante é o episódio das embaixadas e a guerra entre os rivais, quando os mouros atravessam o rio em três barcos vermelhos conduzindo o estandarte com a meia-lua e a disputada imagem. Os cristãos exigem a sua conversão, o que evidentemente não é aceito e inicia-se a batalha – luta de espadas pelas ruas da cidade –, enquanto o “santo” fica protegido no forte que é uma palhoça improvisada com folhas de coqueiro.
No dia seguinte, em combate final, a imagem é recuperada, os mouros batizados e vendidos aos presentes para se obter dinheiro para a comemoração da vitória com bebidas alcoólicas. Temos aí duas representações cheias de rituais, signos e símbolos com os mesmos mecanismos e ideologia: o poder da fé cristã, a verdadeira, vencendo os seguidores de Maomé, os infiéis.
O eterno maniqueísmo do bem contra o mal. No entanto, observa-se que a simbologia primordial do poder cristão é ofuscada, pois o que conta mesmo é o costume de repetir um ritual considerado “antigo”, lúdico, de congraçamento social, que envolve e entusiasma as comunidades. Os cavaleiros cristãos, na época da primeira cruzada, depois de terem conquistado Jerusalém no ano 1099, dividiram a região da Terra Santa em diversos reinos e, explorando a fraqueza e os desacertos entre os maometanos, conseguiram firmar-se lá por dois séculos. Situação que durou até que Saladino, um chefe curdo, conseguiu liderar o povo do Crescente para expulsá-los. A partir dele, os dias de posse da cristandade de um pedaço da terra sagrada se encerraram.
Por: Liberdadenews/Acom