A montadora alemã Mercedes-Benz provocou polêmica na China por citar o Dalai Lama, entrando para uma lista de empresas estrangeiras, como Zara e Marriott, que geraram conflito com Pequim por cometer erros sobre o Tibete, Hong Kong ou Taiwan, temas sensíveis ao governo comunista.
A rusga foi desencadeada por uma mensagem aparentemente inofensiva que a Mercedes, do grupo Daimler, postou no Instagram na segunda-feira (6). A postagem inclui a imagem de um salão da marca com a frase “Observe uma situação de todos os ângulos, abra sua mente!”, atribuindo explicitamente ao líder espiritual tibetano.
Embora o acesso ao Instagram seja bloqueado na China, a mensagem desencadeou reações furiosas com toques nacionalistas nas redes sociais chinesas.
O governo chinês diz que o Dalai Lama, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, é “um lobo disfarçado de monge” e “um separatista”, apesar de o líder tibetano, exilado na Índia, exigir apenas maior autonomia para a região chinesa do Tibete.
Diante da polêmica, a Mercedes apagou a mensagem e publicou nesta terça-feira um pedido de desculpas em mandarim na plataforma chinesa de microblogs Weibo.
“Estamos conscientes de que ferimos os sentimentos do povo deste país”, reconheceu, afirmando “lamentar profundamente a publicação de informações extremamente incorretas” e estar determinado a “aprofundar seu conhecimento da cultura chinesa”.
– “Inimigo do povo chinês” –
A Mercedes-Benz não pode se dar ao luxo de desagradar a China, seu primeiro mercado e onde suas vendas aumentaram 26% no ano passado.
Apesar das desculpas da fabricante, a versão digital do Jornal do Povo, porta-voz do Partido Comunista, dedicou ao incidente um editorial inteiro nesta quarta-feira.
“Mercedes-Benz, você se tornou um inimigo do povo chinês”, diz o texto, que acusa a fabricante de “obter grandes benefícios” na China, principal mercado de automóveis do mundo, enquanto “humilha” seu povo.
Várias empresas ocidentais foram identificadas nas últimas semanas por ignorar a linha oficial de Pequim sobre a sua soberania, seja sobre o Tibete (região sob tutela desde 1950), Hong Kong (ex-colônia britânica com grande autonomia) ou Taiwan (ilha independente de fato, mas reivindicada por Pequim).
Há tempos, os artistas sabem o quanto custa caro atravessar tais linhas vermelhas. O grupo de rock britânico Placebo recebeu no ano passado “a proibição vitalícia” de se apresentar na China, depois de publicar uma foto do Dalai Lama no Instagram. A comunicação das empresas é monitorada de perto.
A marca espanhola Zara e a companhia aérea americana Delta Airlines foram acionadas em janeiro por terem incluído suas sedes em Hong Kong e Taiwan na lista de “países”, como se fossem entidades independentes.
A porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, ressaltou recentemente que a China “recebe com grande prazer as empresas estrangeiras, mas todas devem respeitar a soberania e a integridade territorial do país”.
Fonte: Istoé