A cantora Margareth Menezes, uma das artistas responsáveis por disseminar a música baiana para o mundo, teve seu mais recente trabalho, “Autêntica”, indicado ao Grammy Latino 2020, na categoria de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa. O anúncio foi realizado no site oficial da premiação, no qual divulgou a lista dos 53 indicados na manhã da última terça-terça, 29.
Ao receber a notícia, Margareth relata, sem esconder a felicidade, que foi difícil conter as lágrimas. "Foi muito emocionante porque foi um projeto que nos dedicamos muito por entender a importância do momento”. A cantora estava há cerca de 11 anos sem produzir um disco completo de músicas inéditas.
“Autêntica” foi lançado no final do ano passado pelo selo Natura Musical, através do programa Faz Cultura, do Governo da Bahia. De acordo com a artista, “Autêntica” busca oxigenar o repertório, bem como, a pesquisa municipal. Além disso, o disco traz muito o universo das mulheres negras, o sagrado feminino e o viés do afropopbrasileiro.
“Só tenho agradecer ao Tito Oliveira que foi o produtor do disco que me deu liberdade para interagir e me incentivou a compor. A banda, os diversos músicos que gravaram, os arranjadores, a equipe técnica, enfim, a todos que participaram”, agradeceu a compositora.
Esta é a segunda vez que a artista baiana é indicada ao Grammy Latino. Em 2006, o disco “Pra Você” recebeu a indicação de Melhor Álbum Brasileiro de Música Pop. O disco “Kindala” foi indicado em 1993 no Grammy Awards. Posteriormente, em 2007, Margareth foi novamente indicada, em duas categorias, a de Melhor álbum Brasileiro de World Music e Melhor álbum de Música Regional Brasileira, por “Brasileira ao Vivo: Uma homenagem ao Samba Reggae”.
Com um repertório mais atual, contribuindo para a força do novo disco, a cantora deteve a oportunidade de exibir a sua realidade, sentimento e relação com a vida. “O projeto autoral nos expõe, mas é instigante e imprevisível e é absolutamente renovador”, destaca.
Anteriormente ao álbum indicado ao prêmio, o último trabalho de composições autorais da cantora foi o Maga afropopbrasileiro, produzido por Carlinhos Brown e Ale Siqueira, há 11 anos.
Enquanto que, o projeto Autêntica, possui 13 músicas, todas inéditas, 5 autorais e outras 8 em parcerias. Nomes como o de Luedji Luna e Larissa Luz - a última também indicada ao Grammy, fazem parte do álbum. Para Margareth, “essa nova geração sabe o que quer e não se atem a rótulos nem formatos impostos, eles estão buscando novos formas de expressão. As cantoras negras da nova geração estão surpreendentes.”
A artista sempre difunde a cultura negra pelo mundo, ressaltando a sua identidade cultural. “O Afro sempre foi Pop. Isso é uma realidade que se vê na música mundial. As expressões dos movimentos musicais contemporâneos desde o rock até o hip-hop tem a raiz primordial na cornucópia do universo da música afro.”
Além de inúmeros prêmios e indicações, Margareth conquistou algo não tão simples para cantoras brasileiras: o reconhecimento internacional. "Com certeza é um diferencial. Quando você consegue uma definição de um conceito que lhe coloca como referência na memória popular na sua carreira é como um outro troféu. É como um combustível que sinaliza que valeu a luta e continua valendo. Quando eu compreendi a minha indenidade afro contemporânea que é o Afropop, me senti absolutamente a vontade para caminha em várias direções sem perder minha base. Errando e acertando, porém sempre afirmando a grande maravilha da nossa natividade e diversidade das claves e melodias baianas que são uma vendeiro oásis das possibilidades no legado da música de raiz e afro urbana no Brasil. Nós temos uma profundidade e um frescor na dinâmica criativa que é tesouro infinito e esse tesouro está diretamente ligado ao legado africano que amalgama a nossa veia artística. É justamente isso que facilita nossa música a se comunicar com o mundo", ressaltou.
Sobre as constantes batalhas em meio a um país de desigualdades sociais e raciais, a cantora acredita que este cenário pode ser modificado e que poderemos contribuir para essas mudanças. "A contribuição maior que se pode dar é valorizar financeiramente os artistas negros da mesma forma que pagam os brancos. É fazer justiça pelo nosso legado e representatividade. É reconhecer o nosso legado em todas as áreas de trabalho e principalmente nas artes onde é inegável a nossa contribuição positiva. Quando falo isso não se trata de nada gratuito, mas sim de um reconhecimento a uma verdade sobre nosso valor e o valor do nosso legado", concluiu
Fonte: Atarde