A pandemia aumenta o desafio da convivência entre os casais, diante da necessidade de maior permanência em casa, ainda que em momento de maior flexibilização de medidas restritivas. Na Bahia, o aumento do número de divórcios foi de 9,5%, passando de 1.122 para 1.235 na comparação entre o segundo semestre de 2020, com pandemia, e o igual período de 2019, sem a sombra da Covid-19.
O enfrentamento da Covid-19 tem contribuído para o maior estresse na vida a dois, que em casos extremos resultam na separação. Apenas no primeiro semestre deste ano, foram registradas 774 separações de casais no estado, número que é 35,9% maior que o registrado no primeiro semestre do ano passado.
Os dados são de levantamento feito por A TARDE junto a Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen-BA).
A vice-presidente do Colégio Notarial do Brasil na Bahia (CNB-BA), Roberta Lussac explica que o órgão tem informado um crescimento médio de 15% no número de divórcios no estado, na comparação com as análises mensais feitas antes da pandemia.
Alterações
Para Lussac, o resultado tem relação com as mudanças sociais causadas pelo momento. "Em muitos casos, o convívio do casal ficou restrito ao ambiente domiciliar, ao home office dividido com o cuidado do relacionamento. A pandemia ainda trouxe a situação de maior insegurança financeira, que pode contribuir para conflitos na vida a dois. Apesar do funcionamento dos cartórios, pois fazem serviços considerados essenciais, é possível que ainda existam dados represados, de casais que estão esperando passar pela pandemia para oficializar uma condição de separação", diz Lussac.
Adaptações
A pandemia ainda tem contribuído para o adiamento de planos dos casais, a exemplo de ter filhos. Segundo os dados da Arpen-Ba, em 2021, a Bahia registrou o menor número de nascidos vivos em um primeiro semestre desde o início da série histórica, no ano de 2003.
Até o final de junho, foram registrados 89.960 nascimentos, número 18% menor que a média de nascidos no estado desde 2003, e 2% menor que o ano passado. Na comparação com o ano de 2019, ainda sem a pandemia, o número de nascimentos no período caiu 13% na Bahia.
A fonoaudióloga Priscila Sales, 31 anos, e o técnico em telecomunicações Ledson Andrade, 32 anos, completam 2 anos de casados em setembro. Por causa da pandemia, planos como viajar e ter um filho foram adiados, mas devem ser retomados com o gradual avanço da imunização populacional contra a Covid-19.
Para manter a relação saudável e superar os desafios da pandemia, o casal coloca em prática o diálogo, o cuidado para com o outro, e a partilha de momentos de lazer. "A nossa convivência é muito boa. Acredito que a fórmula é o respeito um pelo outro, o cuidado, que também é uma demonstração de amor. Por causa da disseminação da Covid-19, a gente ainda não fez nossa viagem de lua de mel, mas vamos realizar assim que a situação ficar mais segura. No momento de maior estresse com o início da pandemia, a gente teve muita sabedoria, paciência. Como somos católicos, a fé também ajudou muito", conta Priscila.
Lições
Para o padre Josuel Jesus, que costuma refletir sobre os desafios da pandemia com diferentes casais, o autoconhecimento é o primeiro passo para manter um relacionamento saudável.
"Muita gente tem ficado em casa, realidade que traz a missão do autoconhecimento. Além do autoconhecimento, existe o desafio da partilha do trabalho. Tirar a ideia de que existe atividade que é apenas para a mulher ou só para o homem. A colaboração tira o peso de responsabilidades que geram conflitos. A partilha da oração em casa, diante da impossibilidade de ida para celebrações ou cultos, dentro do respeito aos diferentes credos, também pode trazer conforto para o momento", diz o padre.
A psicanalista Marlene Brito, doutora em família que trabalha com casais, os amigos e familiares são importantes fontes de apoio para o casal, mas desde que compreendam a autonomia da vida a dois. "De maneira mais ampla, é importante ter uma rede de apoio, amigos e familiares que o casal possa confiar. No entanto, quando a família não compreende que o casal tem a sua própria autonomia, há uma ambiguidade onde o casal acaba sofrendo muito. Por isso, os amigos e familiares precisam ficar atentos. Quando o diálogo e a rede de apoio não dão conta da situação, é importante que o casal possa buscar uma terapia de casal, visando a construção de uma linguagem que possa evitar maiores conflitos", explica.
Fonte: Atarde