A Associação dos Jovens Remanescentes Quilombolas da Bahia (Ajarquiba), localizada na comunidade Quilombola de Piaçava, zona rural de Esplanada, traz como novidade para a região a produção da cerveja feita com o mel. O sabor da produção é totalmente inovador e busca ampliar o mercado do mel na região, com sabor que agrada a vários públicos, desde aos que gostam de drinks ao vinho.
O responsável técnico do projeto de Apicultura e Meliponicultura da Ajarquiba e gestor do Empório Ajarquiba, Elicio Neves, diz que a associação desenvolveu um mecanismo de pesquisa de mercado observando as tendências e potencial de cada produto. A cerveja produzida com base no mel é o vigésimo terceiro produto da loja física, criada em 2021.
Elcio Neves fala que o mel gera novas oportunidades de empreender na região. Para o gerente, a apicultura fortalece os produtores com inovação e há muitas opções de produtos para serem desenvolvidos e comercializados.
“Nosso trabalho tem contribuído com o desenvolvimento da comunidade e de famílias que vêm sendo sustentada pelos produtos derivados das abelhas. As vendas acontecem em feiras, na nossa loja física, clientes ativos em lojas de produtos naturais em Salvador e região metropolitana. Agora entrando no e-commerce para vender mais para todo Brasil”, destaca Elicio Neves.
O responsável pela fabricação da cerveja foi o Dan Moraes, consultor gastronômico e sommelier de cerveja, que ressalta que a associação foi a primeira comunidade quilombola da Bahia a desenvolver uma cerveja produzida à base do mel. “Fiquei encantado com a história e com os produtos, inclusive a base de mel. E a gente teve essa ideia em conjunto e fiquei muito feliz e honrado de estar participando da produção, de conseguir produzir para eles a primeira cerveja quilombola baiana”.
Para o gastrônomo, a discussão do que ia produzir juntamente com a Ajarquiba partiu de uma busca por fazer um produto que não estivesse no mercado pela região. “Ao discutir a ideia, pensei que então ela vai ser uma cerveja mais frisante, que vai ter aquelas bolinhas parecendo espumante, bem leve e refrescante, com um toque de mel, a nível de acidez do próprio mel também. É uma complexidade vinda desse produto de floradas da Mata Atlântica, que é simplesmente sensacional”.
“Como comercialização, acho que é um produto que tem a cara da Bahia, que demonstra muito a nossa regionalidade. É um mercado amplo, porque atinge tanto o público cervejeiro que gosta de cerveja, quanto as pessoas que gostam de mel. Ela tem esse perfil para atrair a galera que curte coquetelaria, drinks, porque ela tem toques de acidez, é bem equilibrada, fácil de beber e a galera que gosta de um espumante, e vinho também vai curtir. Eu tenho bons olhos para cerveja”, complementa o sommelier.
Impacto do clima
Juscelso Silva Moreira, apicultor da região de Ribeirão do Largo, atua no ramo desde 1996 e faz parte da Associação de Apicultores de Ribeirão do Largo que conta hoje com 22 associados. O apicultor ressalta a importância do mel para a região para os pequenos agricultores, mas que atualmente há uma crise na produção.
“A produção de mel tem um papel importante no desenvolvimento econômico de Ribeirão do Largo principalmente de pequenos agricultores, mas o cenário da apicultura atravessa uma crise enorme em todo sudoeste da Bahia devido a questão climática que vem afetando os produtores de mel em nossa região”, comenta Juscelso. Para o produtor, é esperado para o futuro que haja melhores condições climáticas para que a região volte a produzir uma maior quantidade de mel.
Erenildo de Magalhães, presidente da Associação do Mel Apis VM (Várzea da Madeira), em Tanque Novo-BA, situado na Chapada Diamantina, também fala das dificuldades que enfrentaram esse ano na região. “Esse ano vivenciamos uma situação atípica e totalmente desfavorável à produção. Com uma seca severa, que comprometeu a produção apícola na região”.
“Além das dificuldades enfrentadas por conta da seca, que exige muito da experiência e uso de técnicas para amenizar os transtornos causados, na parte de comercialização consideramos os processos de registro muito burocráticos, o que dificulta a licença para escutarmos a produção”, enfatiza o presidente.
Fonte: Atarde