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Bons tempos quando as casas eram sem muros. Primeiro, se colocou o caco de vidro por cima dos muros, depois a cerca elétrica e agora a cerca metálica com pontas afiadas que consegue reproduzir o mesmo estilo dos campos da II guerra mundial. São recursos em defesa do patrimônio, contra a vida, assentados sobre os muros, nas mais lindas casas que perdem toda sua beleza, e depois... O que virá?

 

Teixeira de Freitas vive um momento ímpar, diferente, condicionado ao medo dos roubos e dos assaltos, e isso é vergonhoso para um povo humilde e amável como a esmagadora maioria dos que aqui vivem. Será o progresso? As drogas? O desemprego?


Quando os turistas, empresários e investidores chegam a nossa cidade, acabam sendo rendidos pelo impacto das casas protegidas por fortes esquemas de segurança. Cria-se logo uma expectativa de medo e insegurança.  Um paraíso financeiro efervescente e ao mesmo tempo uma cidade hostil e dura pra se viver. Mas, quem vive aqui sabe muito bem que nada disso deveria ser assim.


A violência na cidade tem crescido de forma assustadora, é verdade.  Porém, não são os campos de concentração travestidos de residência apenas que representam os atos violentos na cidade. Nem tão pouco os crimes noturnos, apontados como crimes da droga, que explicam a verdade sobre essa maldita violência teixeirense. Os crimes no trânsito são tão iguais ou imensamente maiores que aqueles apresentados como o mal da década na cidade.


Para quem caminha e pedala em ruas sem calçada, difícil é não ser atropelado. Um trânsito despreparado, ruas confusas, sem ordem, sem faixas e sem sinais, onde todos os motoristas mandam como querem mesmo os bem educados que fazem da desordem a regra.


Em Brasília, a exemplo, o trânsito foi cruel durante décadas. Dotada de ruas largas, asfalto da melhor qualidade, pistas planas e bem projetadas, mesmo assim os motoristas matavam ou deixavam aleijados homens, mulheres e crianças. Nos últimos 35 anos foram muitos jovens, uma parcela enorme de uma brilhante geração que sucumbiu ou permanece com seqüelas irreversíveis. Juventude com um futuro promissor que, repentinamente, estariam fadados a andar em cadeira de rodas e a passar meses ou até anos nos hospitais e clínicas de recuperação.


O povo brasiliense recusou tamanha vergonha imposta aos seus filhos. O Poder Público, representado pelo Governo do Distrito Federal, foi obrigado pela própria sociedade a cuidar e educar pedestres e motoristas para o trânsito. Quem desobedecerá às regras recebe multa, sem perdão e nem pistolão.


Na capital brasileira, qualquer pessoa basta levantar o braço e os veículos param, imediatamente, para quem quer atravessar a rua na faixa de pedestre, ou, onde o movimento é intenso, atravessam nos sinais luminosos, túneis e passarelas. É belo ver o homem prevalecer sobre a máquina - sua mera criatura.


Até quando permitiremos o Hospital Regional receber filas de pessoas, criaturas de Deus, agredidas por veículos de duas ou mais rodas? Por quanto tempo nossa geração de filhos sofrerão as agressões dos para-choques e dos mata-cachorros conduzido pela imprudência e falta de organização? Por quantos anos mais criaremos nossos filhos e estudantes sem direito a uma vida integral, livre, com saúde e segurança?


Prefiro os cacos à cerca elétrica, ou melhor, sem muros como antigamente. Sou muito mais as bicicletas e os pedestres do que aqueles carrões ou fusquinhas trafegando na malha doida do trânsito torto da cidade. A estúpida pressa somada ao fracasso administrativo haverá de ser vencida pela sociedade em glória, ou cairá em desgraça pela inércia geral. Fica o recado direto e reto aos comandantes e poderosos.


Elias Amorim