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Parece que já foi dada largada da sucessão ao prefeito Padre Aparecido, nas eleições em 07 de outubro de 2012. Aquilo que vem acontecendo nos bastidores da política dificilmente chega ao conhecimento do público de forma leal e verdadeira. Pouco ou quase nada se fala sobre os fatos que viabilizam a caminhada dos candidatos, os acordos e seus objetivos. Quanto se gasta realmente, quem os financia durante suas campanhas, de que forma e quais os compromissos firmados com os futuros dirigentes do poder público. Enfim, tudo o que acontece entre quatro paredes termina guardado a sete chaves.


Os candidatos no palanque dizem, com freqüência, “aquilo que eu fiz”, frase que vem substituindo a velha promessa do que “eu vou fazer”, para não passar vergonha depois. É evolução do discurso, da dialética, mas o resultado final continua sendo o mesmo. Em recente pesquisa de opinião sobre a credibilidade das instituições, os partidos políticos ficaram em última classificação, é bem fácil explicar os motivos.


O eleitor atento irá observar que nas principais chamadas o pronome pessoal “eu” tem sido usado como se a obra pessoal fosse mais importante que o trabalho em equipe, distante das decisões tratadas em aberto, com o público, de forma democrática e participativa. Nesta semana foi amplamente divulgado pela imprensa que determinado pré-candidato havia pedido “a cabeça” de todos os seus colegas que ocupavam cargos públicos, por decisão autocrática, sem consultar suas bases – exemplo que não deve ser seguido.


A essência ética do termo “eu fiz” caracteriza o egocentrismo que representa a fonte do pecado. Fortalece a carnalidade que é a exaltação pessoal em si mesmo buscando benefício em seu próprio interesse. Exemplo maior está na Bíblia Sagrada que vem de Lúcifer onde, sem se atentar para a semelhança do gosto pelo poder, o sabor do comando, muitos políticos sonham em se igualar a ele e não se importam por estarem imitando o maior inimigo da humanidade.


Afinal, bom mesmo seria não ter interesse pela política, mas em meus percursos literários tive o desconforto de encontrar a frase de Arnold Toynbee dizendo que “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”.


Já que não se pode desaprender a ler nem desaprender a pensar durante esses tempos em que a eleição é a forma de manifestação popular mais adequada para preservar um sistema público instituído, resta mesmo é discutir as ideias colocadas pelos políticos do extremo sul que, diga-se de passagem, não irão fazer milagres – afinal, milagres só podem ser feito por Deus a pedido daqueles que não carregam consigo tantos pecados. Sendo assim, espero que na seleção eleitoral do homo politicus sul baiano possamos exigir no mínimo a sinceridade, e que saia de suas bocas mais verdades e menos mentiras.


Mas o culpado pela apatia política não é só o candidato, também é o eleitor que discute política como se fosse futebol. Ainda pior é aquele que só ouve, não participa diretamente do processo, mas que no fundo quer chegar ao candidato mais forte e tirar proveito da situação. E não são poucos os que sonham em vender o seu voto até por uma conta de energia, sem esquecer os brigões que defendem seu candidato como se fosse o time na final do campeonato, vai pelas cores, pelo jingle, pelos amigos, mas dificilmente pelo perfil ideológico e pelas propostas que deveriam ser o principal motivo da escolha.


Quem tem erguido as bandeiras políticas se não por interesse pessoal levante as mãos... ou atire a primeira pedra?  Então somos todos culpados, porque ainda não aprendemos a necessidade dos debates coletivos em prol da comunidade.


O uso do crack, por exemplo, tem avançado em nossa juventude de maneira assustadora. Até poucos anos atrás os jovens no extremo sul estavam ilesos da invasão de drogas dessa natureza com alto poder de destruição. Assunto como este tem sido discutido nos palanques ou nos bastidores da política municipal? Para simples conhecimento, saibam que essa droga percorre intensamente as noitadas nas nossas ruas, e da mesma forma percorre a corrente sanguínea do usuário que se sente energizado, aumentando o ritmo cardíaco, dilatando as pupilas e a pressão arterial. A temperatura sobe, se sentem inquietos, ansiosos e irritados com extrema agressividade, paranóia e fora da realidade. Uma viagem muitas vezes sem volta. Não discutir e buscar soluções para tais assuntos é conviver com a inutilidade da nossa razão.


Torcer pelas cores do time de futebol e deixar de entender qual é o momento político, faz fortalecer gestores sem compromisso popular. A questão agrária na região tem que ser enfrentada de cara limpa por todos os seguimentos sociais. Sejam grandes ou pequenos proprietários, empresas envolvidas com a produção de eucalipto e cana de açúcar, além de todos, todos mesmo, sem qualquer exceção. É para isso que o momento político foi criado.


O trânsito em Teixeira de Freitas tira vidas, mutila, agride, ocupa o espaço das crianças que deveriam andar livres e alegres e não se discute novas propostas de construção da cidade. Toda semana se reúnem, na câmara municipal, os vereadores a fim de traçar uma nova realidade para a cidade, mas nada ou quase nada se resolve. A falta de participação da sociedade faz com que as decisões sejam inócuas aos resultados pretendidos. Os políticos precisam evadir-se da banalidade e se empenhar no processo de construção do futuro.


Recuso chegar à conclusão do filósofo francês Balise Pascal que “a vida humana não passa de uma ilusão perpétua: não fazemos senão enganarmo-nos e adularmo-nos mutuamente. Ninguém fala de nós em nossa presença como fala em nossa ausência. O homem, portanto, é apenas disfarce, mentira e hipocrisia, tanto para si mesmo quanto para os outros”. E assim caminha a nossa discussão política.


Por: Elias Amorim