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Jaqueline e Antônio são casados há 10 anos e possuem três filhos. Possuem uma vida econômica boa mas outro dia, em uma sessão de terapia, disseram que seu casamento estava insuportável. Em uma das sessões em que apenas Antônio compareceu desabafou: “Tá difícil de aguentar. Nós brigamos a maior parte do tempo e qualquer coisa é motivo de discórdia e quando não temos motivo parece que criamos. Às vezes me pego pensando se este estado que criamos já se tornou crônico e que viver sem isso não é mais possível entre nós, é difícil eu ver a nós dois nos dando bem outra vez como fora no início!? Se eu cancelo um compromisso por causa de trabalho o clima em casa carrega por que Jaqueline não é capaz de entender. Se eu chego em casa e não tem nada pra eu comer sinto uma raiva que não consigo controlar e acabo descarregando nela. Sinto como se nós dois estivéssemos doentes. Mas ao mesmo tempo que percebo isso, não tenho vontade de fazer nada, não vejo saída, não quero. Sinto raiva, antipatia e vontade de me afastar de tudo e de todos. Sei que não é culpa só dela mas acho que não fiz isso até hoje por causa dos meninos que ainda precisam de mim e eles são minha diversão, mas confesso que também eles me cansam muito as vezes. Tem dias que acordo pensando em jogar tudo pro alto e desaparecer. Eu queria muito encontrar uma saída digna pra mim pra Jaqueline e principalmente para os meninos que não merecem presenciar o tempo todo nossas brigas. Me preocupa o sofrimento deles”.

Embora relatos de casais infelizes seja frequente é impossível saber o motivo que um casal começa a brigar. Nem os próprios casais percebem isso. Chega num ponto em que o motivo da briga nem é importante de fato pois, é como cair em uma areia movediça que quanto mais se mexe mais se afunda. Há casais que desenvolvem uma briga silenciosa onde os gestos, olhares, expressões faciais, ironias disfarçadas, o tom de voz, transformam o dia a dia do casal em algo pesado, raivoso e constrangedor para quem está em volta. Outros casais chegam ao ponto de parar de falar um com outro, numa postura resignada de que casamento é assim mesmo.

Me pergunto se parte do motivo dessa situação ocorrer não tem a ver com aquela ideia inicial que temos quando casamos, de que há uma pessoa certa, uma alma gêmea ou a outra metade, gerando uma expectativa de que o outro tem que corresponder às nossas necessidades. Não será por isso que muitos casais desenvolvem uma relação simbiótica em que, na verdade, ambos projetam um no outro e de forma inconsciente suas próprias frustrações como pessoa e seus aspectos intoleráveis? A consequência é que ambos se tornam insuportáveis pois se tornaram um poço de defeitos um para o outro. Ambos se tornam depositários de seus próprios defeitos, fracassos e frustrações como se um tornasse o lixo irreciclável do outro em que a decomposição dos resíduos para a transformação em algo novo e renovado torna-se tão lenta e morosa que acabam por aumentar o tempo de contaminação na relação.

O mais impressionante é que o casal chega a isso depois de se esforçarem como burros de carga em manter uma imagem de “casal vinte”, abrindo mão de muita coisa importante, se tolerando demais um ao outro, cedendo demais. Sempre com aquela crença de que isso é fundamental para o bem do casamento. No final das contas, o que ocorre é que esses casais acabam tendo um alto nível de cobrança um do outro provocando críticas, acusações dando início as brigas sem fim. Há casais em que as críticas e acusações se renovam, há outros em que são infindavelmente meras repetições. Há casais que dependem tanto um do outro que mesmo estando sofrendo continuam nesse jogo neurótico por medo de ficarem sozinhos e para não perderem o parceiro como depósito de suas frustrações, fracassos e também para responsabilizar o outro por sua vida infeliz. O que sobra é rancor, mágoa e amargura porque, no fundo, todos estão se defendendo da necessidade do outro. Qual será a saída pra isso então? Talvez desistindo das relações estáveis pelo aprisionamento ou então através da descoberta de um jeito de ver o outro sem expectativas e idealizações, mas como um ser humano que pode ou não corresponder às nossas expectativas, cultivando um jeito de se relacionar com outro não por achar que precisa ou por medo de ficar sozinho mas sim, pelo simples fato de ter prazer em estar perto, sem atribuir ao outro aquilo que não lhe diz respeito. Fica aí um convite a reflexão.

Até a próxima.

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