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Certa vez, conversando com uma amiga, percebi sua angústia e solidão ao contar um pouco de como as coisas andam em seu casamento. Principalmente o fato de várias vezes ela entender que a melhor saída é se separar mas não conseguir fazê-lo. Ela me falou que depois que os filhos foram estudar fora, o casamento piorou. Talvez o casamento não tenha piorado mas sim, com a ausência dos filhos, certos fatores tenham ficado mais visíveis e por isso insuportáveis.

Ela conta que, embora seu esposo seja aposentado ele passa todos os dias fechado em seu escritório dentro de casa. Ela diz: “Quando tento conversar ele só me responde por monossílabos. Quando fala alguma coisa é para reclamar, da casa, da roupa que está mal passada ou da comida que podia ser melhor. Se preciso ir a algum lugar ele me leva mas permanece dentro do carro, não me acompanha em nada. Quanto a sexo não preciso nem falar, ele nunca me procura. Se eu proponho algo diferente como darmos uma saída ou irmos a um cinema ele sempre diz que está cansado. Penso em me separar mas não consigo, acho que se é ruim com ele será pior ainda sem ele.”

Este não é um relato incomum a respeito de casamento. Incrível como as pessoas tem medo de encarar certos fatos principalmente quando se trata de mudar de vida. Muitas vezes por pior que a vida esteja é melhor ficar assim, pelo menos já estamos habituados, do que dar um basta em tudo e assumirmos o risco de experimentarmos o novo e sua falta de certezas. O medo da solidão, daquele sentimento do desamparo, da ausência de alguém em nosso lado, o pessimismo em acharmos que não encontraremos alguém, o medo de não conseguir se sustentar sozinha até mesmo o medo dos filhos não aceitarem tal decisão fazem com que muitos homens ou mulheres paguem qualquer preço, sustentando o insustentável. Muitas vezes o que se percebe quando nos deparamos com casais assim é que eles criam um mecanismo de defesa em não pensarem na própria vida. Ignoram ou fingem que não vê o que está acontecendo. Isto faz com que eles se tornem cada vez mais estranhos um ao outro.

A mulher desenvolve uma postura de fragilidade, esperando que seu marido faça alguma coisa, tome alguma iniciativa e o homem tratando sua mulher como um estorvo incapaz de satisfazê-lo como mulher ou dona de casa. Ambos cegos para seus erros e incapazes de resolver suas frustrações. Creio que a solidão é o maior vilão disso tudo. Isto é tão sério que bloqueia, tolhe e cria obstáculos para uma vida plena, cerceando a liberdade de quem a sente. Aliás a liberdade passa a ser não um anseio mas um pesadelo. Fico pensando o quanto o medo da solidão é o responsável por tantas decisões equivocadas que tomamos na vida. Não é à toa que a solidão é um grande dilema existencial.

É necessário encarar os problemas conjugais no sentido de entender aquilo que nos dá prazer, é não termos sempre uma postura de satisfação sempre focado na outra pessoa. Muito importante saber nos proporcionar gentilezas, nos presentear com prazeres necessários para se criar uma vida mais preenchida sem depender tanto um do outro. A atitude interna de que o outro tem que me dar aquilo que preciso é ruim e desgastante para o casamento. Por isso, saber se auto prover torna-se necessário na arte de aprender a viver só. Acredito na lógica de que só deveríamos nos casar com alguém depois que aprendermos a casar com a gente mesmo e viver só com a gente mesmo. O melhor encontro é aquele que acontece entre pessoas livres e não o que acontece entre pessoas depositárias de expectativas. De acordo com Paulo Freire nossa saída é vivermos o presente através das coisas que que nos dão prazer para que, ao em vez de esperarmos do outro, possamos apenas partilhar com o outro nossa natureza livre das amarras do medo da solidão.

Até a próxima.

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