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Brasil, o maior produtor mundial de carvão vegetal responde por cerca de 1/3 de toda a produção do planeta e abastece as indústrias metalúrgicas e siderúrgicas de Minas Gerais, do Espírito Santo e de São Paulo.


Já no final de 2011 a justiça determinou, a polícia prendeu e há quem reclame que a imprensa condenou alguns empresários por crime de sonegação fiscal e ambiental com fotos e reportagens amplamente divulgadas. Nesta última operação ficaram esquecidos os operários, caminhoneiros e quem colocam de fato a mão na massa no Extremo Sul baiano e no norte capixaba.


Receberam o desagradável título de máfia, que são organizações criminosas ocultas, poderosas e que penetra no carne da sociedade, a exemplo da italiana, e corrompe políticos, polícia, justiça, imprensa, e principalmente as famílias que aceitam a criminalidade em troca das vantagens facilitadas pelo capitalismo.


Na última década nossa próspera região passou a ser um dos maiores líderes na produção do escasso pau queimado, bem intermediário e renovável. A origem da matéria prima era farta no tempo em que trocávamos os verdes da mata atlântica pelo escuro das madeiras abafadas em fogo. Foram extraídas matas nativas inteiras, e agora o crime é praticado no eucalipto plantado para celulose surgido da insuficiente reforma agrária.


Anunciam mais de mil e duzentos fornos artesanais destruídos nos municípios da região que conta com a estimada quantia de cinco mil fornos ilegais. O esquema de corrupção é forte e compromete o tesouro público em mais de sessenta milhões de reais. Mas quem realmente foi conivente, imprudente ou negligente, o povo ou o poder?


Defendo uma tripla visão para analisar os fatos. A primeira é que a corrupção em parceria com a criminalidade faz o bolo crescer e aumentar o apetite sedutor. A segunda é a ofensa à ordem pública e cultural que depreda a sociedade quando oferece uma alternativa ilegal para fixação do homem no campo. E a terceira, talvez a mais imediata e perigosa, é o impacto econômico que reflete na renda agregada por causa da retirada brusca de inúmeras famílias que vivem dessa cortina de fumaça, agora embarreirada pelas ações coordenadas pelo ministério público.


Haverá punição igual para o povo desnutrido pelos vinténs da queimada ilegal? São poderosos ou apenas laranjas presos por sentença sumária apresentada à opinião pública com fotos e algemas divulgadas nos corredores da internet?


Sinto no fundo uma apreensão pela falta de ações que possam reintegrar essa gente pobre ao trabalho. Gente que antes pedia as sobras da colheita do eucalipto e lhes era negada e que aos poucos se acomodaram sob as asas do forte esquema carvoeiro.


Deveríamos buscar o fundo da questão, os porquês dos fatos que tem gerado atentados, bloqueio de estradas, ônibus, carretas e máquinas queimadas. Dois ou três milhões de prejuízo aos empreendedores que não tem nada a ver com o pato, mas que pagam pela ira de uma ação talvez orquestrada pelo crime.


Fica um breve questionamento sobre o antes e o depois. Nossas florestas foram trocadas em menos de trinta anos pelo eucalipto. O povo que vivia no campo e subsistia das matas, tinha acesso à sociedade de consumo? Aliás, nem conheciam o consumo exceto a farinha, o sal e o sabão.  Motivo esse foi tirado de suas terras para fazerem parte do maravilhoso mundo da obsolescência e acabaram gerando os bolsões de miséria em Teixeira de Freitas, Posto da Mata e periferia na região. Haverá alguma lógica entre este destino e a miséria, ou será mesmo o mundo que está perdido?


Por: Elias Amorim/Economista e professor universitário