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Conhecer o ser humano, as necessidades do planeta e a potencialidade do lugar onde vivemos é o tripé da sustentabilidade econômica e social. No momento, a apatia política e o descrédito dos candidatos que disputam as eleições impedem a qualidade dos debates e inibem o interesse para que nossos filhos e as futuras gerações tenham dias melhores neste extremo sul baiano.


Conversando com um professor recém chegado a Teixeira de Freitas, perguntei quais os motivos da sua mudança de uma pequena cidade litorânea no Estado do Espírito Santo para o Extremo Sul da Bahia. Sua resposta foi imediata: “onde moro a violência anda insuportável. Em minha família houve inclusive seqüestro”...  aí prosseguiu.


Cá com meus botões, até onde esta violência tem a ver com o nosso momento econômico, com o nível de emprego e com as diferenças sociais? Uma sociedade sem rumo navega pelos mares da criminalidade, das drogas e da luxúria. Desgraça tamanha poderá levar nossa cidade ao calabouço do inferno e da violência urbana. É certo que isso não desejamos.


O crescimento econômico de Teixeira de Freitas e região é inegável. Poucas são as regiões do país que vêem circular bens e serviços como neste pedaço virtuosamente inflamado do nordeste brasileiro. No bom e legítimo economês, Teixeira de Freitas acompanha o crescimento global sobremaneira, mas algo ainda lhe falta para um desenvolvimento sustentável, no sentido exato do termo.


State of the world (O estado do mundo), uma série de estudos realizados pelo Worldwatch Institute (WWI), em sua 25ª edição, aborda como deveremos tratar a economia para que o desenvolvimento seja ético, justo e sustentável. Este ano a Igreja Católica colocou a economia como ponto de reflexão. O fundamento da proposta apontada pelo estudo liderado pelas idéias do economista Lester Brown mostra o cenário das tendências do mundo inteiro: Uma economia radicalmente diferente desta que aplicamos hoje. A necessidade de revolucionar os resultados gerados pelo crescimento econômico defendendo os ecossistemas é que irá gerar o desenvolvimento com sustentabilidade para o planeta terra, fato essencial para a sobrevivência humana. O documento comprova as tendências futuras e mostram como as famílias e as empresas estarão se comportando daqui por diante.


Estimular uma nova ordem econômica é o principal objetivo do relatório publicado pelos pesquisadores da WWI que antes, usado predominantemente por organizações não governamentais (ONGs), agora penetram em influentes gabinetes empresariais, nas grandes corporações, entre os maiores investidores do mundo e no alto escalão dos governos. A mudança de direção dos próximos anos será inevitável. Quem não se adequar às novas regras não sobreviverá. Podemos comparar a adaptação dos empresários os velhos espetáculos circenses com o novo, um circo de Soleil que supera a expectativa conquistando o seu público com modernos espetáculos, sem animais, combinando homens e tecnologia. Quanto aos demais, em pouco tempo restará apenas lembranças.


A construção de um novo modelo econômico retira os princípios ortodoxos do cenário. Nossos políticos e lideranças ainda não compreenderam que a terra não é o centro do universo. São novos horizontes que devem ser respeitados. Os impactos ambientais que atingem especialmente aos mais jovens são os motivos dessa mudança radical. Tudo muda num contexto de referencial equivocado. A economia e os princípios da administração tradicional desabam para dar lugar a um novo tempo, sustentável e mais humano. E a primeira regra é a mudança comportamental.


Para se ter uma idéia do desenvolvimento insustentável do planeta, se todos seguissem o American Way (estilo de vida dos norte-americanos), a emissão de CO2 na atmosfera estaria, até a metade do século em 125 gigatons, quase cinco vezes a do nível atual. O ritmo de uso de plásticos e materiais de difícil decomposição se torna extremamente volumoso numa região onde o aumento do consumo é diretamente proporcional ao crescimento do nível de renda. Isto se aplica ao Extremo Sul da Bahia. O lixo imprestável produzido por cada um de nós fica mais difícil de ser depositado no planeta. A água fica escassa e o ar fica intragável. Imagine se em sua casa fosse lugar obrigatório para guardar apenas 1% do lixo inorgânico produzido por sua família? Em pouco tempo não haveria mais lugar onde guardar o restolho.


Então, por que temos gastado tanto? Por que consumimos tanto se para isso é preciso ganhar muito e de maneira tão rápida vivendo tão pouco?


Por que não ganhamos menos, gastamos menos e vivemos mais. Teriamos mais tempo para os amigos, para a música, para a arte, com a família e com a própria natureza. Enfim, as propostas de vida mais simples tem se intensificado em todo o mundo. Esse modo de vida integral está por acontecer em tempo muito breve. Propostas adequadas para uma vida mais simples que em muitas cidades européias já estão sendo implantadas. Uma revolução das relações econômicas de produção e consumo se instala diante das novas expectativas. Temos que nos adaptar e saber a quem deverá ser debitado o preço do excesso.


Quem deverá pagar o custo ambiental dos resíduos, das embalagens e da poluição? Se você respondeu: as empresas – acertou. Este débito que hoje é imputado à sociedade está sendo invertido. As empresas estarão obrigadas a recolherem cada pedaço de plástico ou detrito gerado por esta ou por aquela venda efetuada. Os supermercados serão tributados pelas sacolas de plástico que por um lado servem à finalidade de embalar e por outro polui como o óleo derramado no mar.


Estamos diante de uma nova visão econômica e ambiental. Só nos resta entender que peça do jogo sou “eu” e embarcar na proa de um novo tempo. Nossa cidade cresce como nunca e alguém precisa explicar ao nosso povo como participar desse movimento. A coleta de lixo seletiva precisa ser instruída nas escolas e executada pelas famílias. O comportamento de cada cidadão é o que deve ser mudado.


Ciclovias e passeios em troca do caótico trânsito que abate os nossos jovens ou causam males irreversíveis ao real valor econômico que é a nossa vida. Praças e parques devem ser construídos para brincar ao invés de lotes cercados por segurança onde nossas crianças vivem montadas no mundo virtual das jogatinas de furtos e assassinatos promovidos pelos softwares dos computadores. Sem esse debate a apatia do momento político continua. Cada qual querendo tirar sua casquinha. É o olho por olho e dente por dente.


Já é quase eleição e nem se fala quais propostas para nossa região. Parece mais uma disputa de futebol onde quem está envolvido politicamente já sabe qual candidato apoiar. A mídia influencia os eleitores a votarem naquela ou naquele defendido por interesses econômicos, muitas vezes distantes do interesse da nação. Então, esperaremos o resultado da copa do mundo para escolher de última hora em quem votar? Ou será melhor discutirmos nossas políticas durante os 365 dias do ano, sem interrupção?


Lembro então do professor que mudou em busca de um lugar mais seguro. Acredito no seu instinto professor e aqui construiremos nosso templo de viver. Estamos no momento de refletir sobre o rumo a tomar. Se não aceitarmos a nova ordem nossos jovens de hoje e homens do amanhã poderão se espelhar na violência dos Counter Strike que circulam pelas Lan Houses e se inspirar nas pedras do crack que avançam sobre a ociosidade do dia-a-dia. Um povo como este merece ser observado e conduzido a um conjunto de propostas coletivas.


Sinto muito professor capixaba por nossas casas estarem sendo rodeadas por cercas elétricas e cães treinados, mas sei que nada disso é a solução. Teixeira de Freitas como pólo do desenvolvimento da região deve separar sua parcela de investimento para políticas públicas voltada ao coletivo. Os rumos que o mundo caminha precisa ser observado pelas lideranças, governos e empresas locais e a obsessão pelo crescimento não pode vandalizar o destino da economia real em troca do interesse pessoal. Orai meus irmãos... está chegando a hora de votar.


Por:  Elias Amorim - Economista e professor universitário.