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Na noite fria do dia 29 de agosto de 1992, segundo ano da recém criada democracia brasileira, cerca de 200 homens e mulheres, a bordo de cinco paus de arara, respirando o ar libertário que todo o país respirava, invadiram a fazenda do senhor Altamiro, pai de Gileno influente corretor de imóveis do município, na esperança de dar e encontrar um lar para seus entes queridos.

 


No dia seguinte a noticia a invasão parece que transcorreu toda a região e cada vez mais, pessoas sem teto, andarilhos, desempregados e desamparados chegava ao local, que foi batizado pelo morador pioneiro Rosemiro Pereira de Azevedo, conhecido por “Miro Barbudo” de “Liberdade” , em alusão a libertação do aluguel e ao momento histórico presenciado por ele e vivido em todos os rincões do País era a democracia que se chegava.


Não existem documentos oficiais, nem muito menos anotações capazes de precisar como o bairro ocupado por excluídos cresceu e tornou-se um dos mais populosos e estruturados do município de Teixeira de Freitas.


Faltando os documentos oficiais o jeito é confiar na memória do senhor Miro que diz ter orgulho de ter perfurado o primeiro poço artesiano do local, 3 dias após a invasão, ou seja no dia 02 de setembro de 1992, os moradores do bairro Liberdade fizeram uma grande festa ao redor deste posto que alem de uma nova vida significava a independência da água que antes era dada por moradores das redondezas com muita dificuldade de transporte.


Não era fácil o acesso ao bairro, a Rua Estrela do sul que liga o São Lourenço ao Liberdade, tinha no meio um córrego que era atravessado por cima de toras de madeira, arriscando a vida de quem tentasse a passagem para o outro lado, Seu Miro conta que foi inúmeros os feridos naquele local.


Após a festa da água as dificuldades começaram a aparecer, pois não havia energia, saneamento básico, nem muito menos escola e posto de saúde, os invasores como eram chamados tinham que se deslocar uma grande distancia para ter acesso a esses serviços.


Passados 18 anos a nossa democracia amadureceu o bairro liberdade cresceu e hoje tem cerca de 5 mil moradores e ainda ganhou um irmão o bairro liberdade 2 que assim como o primeiro foi fruto da coragem e perseverança de pessoas que acreditaram que era possível construir um lar.


O estado chegou levando, escola, saúde, energia elétrica, saneamento básico, asfalto, entre outros projetos de cunho social, mas longe de suprir todas as necessidades daquele povo que sonhou e continua sonhando por dias melhores, então reivindicam para os seus milhares de moradores, um pouco de paz, e ao falar de paz o velho Miro barbudo hoje com mais de 60 anos enche os olhos de lágrimas e diz. “se soubesse que as drogas tomariam conta deste local, e nossos jovens seriam mortos de forma brutal por causa dela, não teria invadindo, teria permanecido apenas sonhando” e diz  ainda “me arrependo profundamente pela alma de nossas crianças morta pela violência e acrescenta “Só falta a paz para o sonho ser realidade”.


Por fim o liberdade já não é mais uma invasão, se tornou um bairro da periferia, como em todos os outros refém da ausência capaz do estado, então resta fugir para as inúmeras igrejas do bairro para clamar a Deus pela terra prometida.


Ezequias Alves- Bacharel em Direito, jornalista, coordenador regional da ABRAÇO-Extremo Sul (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária do Extremo Sul da Bahia) e Coordenador Jurídico da ABRAÇO-BA.