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Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, afirmou em delação premiada que Jaques Wagner (PT-BA), secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia e ex-governador do estado, teria recebido um relógio avaliado em US$ 20 mil como presente de aniversário, em 2012. Ainda segundo a delação, ele também teria conseguido dinheiro para o candidato a sucessão dele, Rui Costa (PT-BA).

Além do depoimento registrado em vídeo que cita o relógio de US$ 20 mil, da marca Hublot, o delator também afirmou, em documento entregue ao MPF, que deu outro relógio, de US$ 4 mil, da marca Corum. Cláudio Melo Filho diz que este outro relógio também foi dado de presente de aniversário, mas afirma não se recordar do ano.

"O Sr. Jaques Wagner gosta de relógio, é meio notório, todo mundo sabia disso, eu pessoalmente sabia", disse Melo. "A preocupação não foi com o valor, foi com o simbolismo. Depois, ele me agradeceu, mas pessoalmente nunca o vi usando", completou o delator, citando que o presente e o dinheiro foram dados em troca de vantagens para a Odebrecht.

Em 2014, o então governador da Bahia negociou o pagamento de uma dívida que o governo tinha com a empresa em troca de doação para a campanha de seu sucessor. O delator explicou que para fazer o repasse, a empreiteira solicitou o pagamento de uma dívida da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia. De uma dívida de R$ 390 milhões de reais ficou acertado que o governo pagaria 290 milhões. A empresa ficaria com R$ 260 milhões e os R$ 30 milhões restantes iriam para a campanha eleitoral.

Jaques Wagner também é suspeito de ter recebido cerca de US$ 12 milhões para campanha de reeleição ao governo da Bahia em 2010. Em troca, segundo as denúncias, teria concedido benefícios fiscais associados ao pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que teriam favorecido a Odebrecht .

A acusação consta em depoimentos dos delatores Carlos José Fadigas de Souza Filho e Marcelo Odebrecht. A denúncia foi encaminhada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), à Justiça Federal da Bahia, por falta de prerrogativa de foro privilegiado perante a Corte. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também encaminha a denúncia para a Procuradoria da República na Bahia.

Procurado pelo G1, o secretário respondeu que "está tranquilo, trabalhando normalmente para atrair novos investimentos que gerem renda e emprego para os baianos". Ele defende ainda que as decisões do ministro Edson Fachin "sejam pronta e amplamente divulgadas em sua integralidade para evitar o uso político do que está na imprensa".