O grupo de elite da Polícia Militar de São Paulo que usou um copo numa parede para tentar ouvir e saber da movimentação do sequestrador da estudante Eloá Pimentel em 2008 deverá receber dois modernos equipamentos israelenses que permitem enxergar pessoas em 3D através de muros de concreto com meio metro de espessura.
Cada aparelho custa entre US$ 30 mil e US$ 200 mil (algo entre mais de R$ 50 mil e quase R$ 400 mil) e o pedido de compra já foi feito ao governo. A estimativa é que o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) receba os equipamentos com visão tridimensional até o fim deste ano, de acordo com o coronel Álvaro Camilo, comandante da PM paulista.
O nome do aparelho é Xaver. O modelo Xaver 800 pesa 15 kg e pode ser transportado em mochilas. Ele mostra imagem tridimensional (3D) de pessoas e objetos a 20 metros de distância. O Xaver 400 pesa 3 kg e exibe imagens planas (2D) de pessoas e objetos a 8 metros do equipamento. A PM pretende adquirir o modelo 3D.
O oficial da PM conversou com o G1 na quarta-feira (14) após um evento na capital, onde foi eleito presidente do Conselho Nacional dos Comandantes Gerais das Policias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil. “Não é um equipamento muito barato, mas é um equipamento que vale o investimento”, afirmou o coronel Camilo.
Em outubro de 2008, a maior dificuldade do Gate era saber em quais cômodos do apartamento no ABC estavam o sequestrador e as vítimas. O grupo especializado da PM alegou que não dispunha de aparelhos que permitissem saber como as pessoas estavam no imóvel. Dentro dele, Lindemberg Alves mantinha a ex-namorada Eloá e a amiga dela, Nayara Rodrigues, reféns. Ele pretendia reatar o romance com a vítima, mas a polícia não conseguia monitorar seus passos no interior da residência.
A polícia mais preparada do estado em sequestros afirmou naquela ocasião que o único recurso que dispunha para saber da movimentação de Lindemberg e tentar ouvi-lo era de um copo americano de vidro.
Após mais de cem horas de negociação com o sequestrador, policiais do Gate invadiram o imóvel sob a alegação de que Lindemberg havia atirado nas duas jovens. Mas ao tentar entrar pela porta, havia uma barreira, que dificultou o acesso dos policiais. Eloá foi atingida na cabeça e morreu horas depois. Nayara levou um tiro no rosto e sobreviveu. Ela negou que o criminoso disparou após a invasão da PM.
Um inquérito militar foi aberto para apurar a conduta do Gate. Lindemberg está preso em Tremembé, a 147 quilômetros de e irá a júri popular pela morte da ex-namorada.
Mesmo não tendo sido o comandante da PM naquela oportunidade, Camilo defendeu a ação do Gate durante o seqüestro de Eloá. “Uma ocorrência com refém é uma ocorrência que a gente costuma dizer que é: ‘50% ela pode dar certo e 50% ela pode dar errado’. Deu errado ali não foi a ação tática especificamente, né? O que aconteceu ali naquele momento foi o Lindemberg atirar na menina. Ou seja, não tem...a atitude dele é que levou a tudo a isso”, afirmou o coronel.
A PM aguarda agora os tramites burocráticos para a aquisição do aparelho, que funciona como uma espécie de raio-x. “Esse equipamento, agora voltando ao equipamento, vai ajudar muito nessas situações. É como se eu conseguisse ir para cima do compartimento onde eles estão e olhar por cima. Ou seja, eu consigo inclusive...ele, ele dá o volume das pessoas. Se são pessoas magras, gordas, ele consegue identificar em três dimensões”, explicou o comandante.