A médica de 25 anos que atendeu o homem suspeito de furtar um celular na cidade de Itapebi, no dia 16 de janeiro, participou do inquérito na condição de testemunha, ajudando a esclarecer os fatos ao delegado responsável pelo caso. A afirmação é do advogado de defesa da médica, que, em conversa com o RADAR 64, destacou que, ao ser liberado do hospital do município, por volta das 18h, o paciente estava caminhando, lúcido e acompanhado pelos policiais que o prenderam.
Levado para a Delegacia de Itapebi, Epaminondas Batista Mota, de 52 anos, foi encontrado morto, horas depois, dentro da cela. Os dois policiais militares acusados de torturar e matar Epaminondas foram presos quarta-feira (09).
MÉDICA SEGUIU PROTOCOLOS – O advogado explicou que a médica estava de plantão quando foi chamada para avaliar a situação do paciente, que havia sido detido pela Polícia Militar e levado até o hospital de Itapebi. “Seguindo os protocolos e boa prática médica, perguntou ao Sr. Epaminondas seu nome, idade e se ele sentia alguma dor ou tinha algum problema. Ele respondeu seu nome, idade e disse que não sentia nenhuma dor ou problema, com exceção das dificuldades para andar por conta do ‘ferro’ que possuía na perna, colocado após um acidente de caminhão”, disse o advogado.
A médica examinou o paciente e constatou que ele estava lúcido e não apresentava sinais de machucados, tampouco de sangue. De acordo com a defesa, o homem também não mencionou qualquer queixa que justificasse a realização de exames, e por isso foi liberado para os demais procedimentos da Polícia Militar.
TESTEMUNHA – A médica foi ouvida como testemunha três dias depois da morte de Epaminondas. O advogado relatou que a profissional tem sofrido ataques nas redes sociais, sendo injustamente acusada de participação no crime que levou à morte de Epaminondas, quando, na verdade, sequer participou do inquérito como investigada. Agora que o inquérito policial foi concluído, a conduta da médica também será analisada, após a coleta de outros elementos de persuasão.
PMS PRESOS – Os soldados Ricardo Soares de Oliveira, 36 anos, e Raphael Santos de Oliveira, de 27, que são lotados na 7ª CIPM, em Eunápolis, tiveram a prisão preventiva decretada pela 1ª Vara de Auditoria Militar de Salvador no último dia 3 de março. Eles foram indiciados em investigação da Polícia Civil por tortura, com resultado morte. O inquérito, concluído em 16 de fevereiro – um mês após o crime – foi remetido ao Ministério Público, que aceitou a denúncia e pediu a prisão dos suspeitos.
Conforme a denúncia, os PMs abordaram Epaminondas em um bar e o agrediram com socos, pontapés, golpes de taco de sinuca e golpes com um pedaço de madeira, tipo travanca, com o fim de obter informação e confissão. Durante a sessão de tortura, conforme a investigação, a vítima confessou o crime e levou os policiais até à sua casa, onde o celular foi devolvido. Mesmo assim, os policiais continuaram as agressões, como forma de lhe “aplicar castigo pessoal”. No bar, local da abordagem, foram recolhidos o taco quebrado em três partes e um projétil de arma de fogo, decorrente do disparo efetuado por um dos policiais na parede.
Após a tortura, os policiais levaram o suspeito para atendimento no hospital do município. Depois de ser liberado pela médica, Epaminondas Batista teria sido arrastado pela gola da camisa até a viatura, que estava no pátio da unidade de saúde, e levado para a delegacia, onde já chegou inconsciente. O percurso do hospital até a delegacia durou apenas dois minutos, conforme mostraram imagens de câmeras de segurança.
O laudo da necropsia traz como causa da morte “trauma fechado do tórax”, provocado por instrumento contundente.
Fonte: Radar64