Geraldo Alckmin e Michel Temer em evento no ano passado no interior de SP
Alan Santos/PR
O presidente Michel Temer gosta de escrever cartas. A mais famosa delas é aquela dirigida a Dilma Rousseff, na qual se classificou como "vice decorativo". Nessa carta, queixou-se do tratamento que recebia da então presidente. Foi o começo do fim da relação entre eles, ainda em 2015.
Já presidente, Temer mandou uma carta à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, contestando sua inclusão no inquérito da Odebrecht. E, há algumas semanas, enviou outra para o cantor Caetano Veloso para contestar comparações com Ciro Gomes.
Na quarta-feira (5), Temer inovou: quis mandar recado por vídeo. Mas, desta vez, para Geraldo Alckmin. Gravou para as redes sociais uma mensagem cobrando de "Geraldo" que ele "fale a verdade" sobre o apoio do PSDB ao governo. Nesta quinta (6), Temer voltou à carga.
Chamou novamente o tucano pelo primeiro nome – "para mostrar intimidade", nas palavras de um assessor – e vinculou o PSDB aos ministérios do governo.
Quem conhece Temer diz que, já que aliados rejeitam defendê-lo, ele aproveitará o fim da gestão para sair em defesa de sua biografia e do seu trabalho no governo.
Citam o candidato Henrique Meirelles, ex-ministro de Temer, que não defende o legado do governo emedebista em declarações públicas. Agora, o presidente se irritou com a estratégia do PSDB de tentar se afastar do governo dele.
De fato, Temer é próximo do grupo de Aécio Neves no PSDB – adversário de Alckmin dentro do partido –, mas os tucanos foram sócios do condomínio emedebista desde o dia 1. Estavam na foto da posse de Temer em primeiro plano – e com muitos sorrisos.
Mas Alckmin repete que não era a favor do apoio. Que era coisa de Aécio Neves, que caiu em desgraça após ter sido flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista.
Por isso, a estratégia de Alckmin inclui, na verdade, distância mais do que regulamentar de Temer mas também a do PSDB de Aécio. O comitê tucano não achou ruins os ataques de Temer, pelo contrário.
Já a estratégia de Temer foca a tentativa de não se transformar, na reta final do seu mandato, no que aliados avaliam que ele já virou: um presidente decorativo, apenas aguardando a troca de faixa.
Editoria de Arte / G1