Assessores econômicos responderam sobre criação de postos, oneração da folha e meta de empregos; G1 publica série sobre propostas das campanhas para a economia. Entre os reflexos da crise econômica, um dos mais cruéis para os brasileiros foi o aumento do desemprego. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desocupação foi de 12,3%, o equivalente a 12,9 milhões de pessoas procurando trabalho. O G1 ouviu as opiniões dos assessores econômicos dos candidatos à presidência sobre esse tema (veja mais abaixo).

Três perguntas sobre criação de empregos

 

A análise detalhada dos dados de mercado de trabalho revelam um quadro bastante preocupante. Com a lentidão da recuperação da economia frustrando expectativas, muitas pessoas desistiram de procurar emprego (e isso mascara uma taxa de desocupação que poderia ser ainda maior).

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Segundo o IBGE, no trimestre encerrado em julho o número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) bateu recorde, atingindo 4,818 milhões de brasileiros. Em um ano, o crescimento foi de 17,8%, ou um aumento de 728 mil no número de desalentados.

Conheça o cenário econômico que o futuro presidente da República encontrará

O cenário atual do mercado de trabalho também inclui o aumento da informalidade. O número de pessoas trabalhando sem carteira cresceu e ajudou a reduzir o desemprego, mas especialistas ressalvam que esse fenômeno não se traduziu em melhora da produtividade.

Entrevistas

O G1 publica ao longo desta semana uma série de reportagens sobre as propostas eleitorais em relação aos principais temas econômicos. Foram consultados os assessores econômicos dos cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas.

Assim como os demais partidos, a campanha de Jair Bolsonaro (PSL) foi procurada com 2 semanas de antecedência, mas não aceitou conceder entrevista no prazo proposto pelo G1. As opiniões sobre os temas são as que constam do programa de governo do candidato e as expressadas pelo economista do partido em entrevista à Globonews.

A série de reportagens vai abordar os seguintes temas:

Contas públicas

Previdência

Desemprego

Fraco crescimento econômico

Reforma trabalhista.

Veja abaixo a avaliação e propostas dos economistas (em ordem alfabética):

Guilherme Mello, assessor econômico de Fernando Haddad (PT)

Central das Eleições entrevistou o economista Guilherme Mello (PT)

GloboNews/Reprodução

“Temos foco no setor da construção civil, que perdeu muitas vagas. E como a gente vai desenvolver esse setor? Listamos todas as obras paradas - tanto as obras pequenas como as obras maiores. São milhares de obras paradas porque as verbas não estão sendo liberadas. Destravando essas obras, vamos gerar milhares de postos num setor que perdeu muito. Obra é uma coisa que emprega muita gente. Ao mesmo tempo vai melhorar a infraestrutura das cidades.”

Estado ou setor privado

“Não é nem só um nem só outro. O que importa é a interação entre os dois. Agora, o Estado não pode se furtar de sua responsabilidade. Não basta eu cortar gastos que o setor privado faz o resto. O que o Estado precisa fazer é construir os mecanismos de interação. Quando você faz obras públicas, está construindo mecanismos de interação com o setor privado. O Estado tem uma responsabilidade de induzir, promover o desenvolvimento.”

Desoneração da folha

“A nossa proposta de reforma tributária tende a dar menos peso para imposto sobre folha e mais para patrimônio e renda. Não precisa desonerar (a folha). Vai alterar a estrutura de tributação e reequilibrar a estrutura sobre a folha para que não haja o incentivo adversos dos empregados estarem pejotizados.”

Meta de emprego

“Não é um número fechado. O que importa menos para nós neste momento é prometer um número que pareça bonito para o eleitor mas mostrar como se dá o caminho.”

Marco Bonomo, assessor econômico de Marina Silva (Rede)

O economista Marco Bonomo

Reprodução / site do economista

“Se olhar para o Brasil em 2014, a taxa de desemprego era baixa. E depois subiu. O que causou isso? Foi a recessão. E o que causou a recessão? Foi a irresponsabilidade fiscal do Estado. As pessoas e as empresas estão excessivamente endividadas. Elas não conseguem mais investir e aumentar o seu consumo. Então, parte da recuperação do emprego no curto prazo passa necessariamente pelo reequilíbrio das contas dos governos, das pessoas e das empresas. Isso já está acontecendo gradualmente no setor privado. Recuperando a confiança no país, haverá mais investimento privado e o país começa a entrar num ciclo virtuoso."

Estado ou setor privado

“É o Estado que estabiliza, que vai ter as medidas de ajuste fiscal. Mas não é a partir de mais gasto que o emprego vai ser recuperado. Foi isso que gerou a situação que estamos. Foi o desequilíbrio de gastos. É importante ter o diagnóstico certo para propor a solução certa.

Desoneração da folha

"A desoneração da folha foi dada de forma errada e atabalhoada. Gerou mais déficit, não gerou benefício nenhum. Então, essa reoneração já foi acertada com o Congresso. A decisão de dar o subsídio do diesel embutiu a reoneração da folha. Isso já está equacionado e a folha vai ser reonerada gradualmente a partir dos próximos anos."

Meta de emprego

“O Estado não tem este poder de determinar. Boa parte dos empregos vem do setor privado.”

Nelson Marconi, assessor econômico de Ciro Gomes (PDT)

Economista Nelson Marconi

Divulgação/FGV

“Num primeiro momento, o investimento privado está muito debilitado em função do cenário econômico. Não conseguimos contar com uma recuperação forte do investimento privado. Então, o que pretendemos fazer? Primeiro, ter uma estratégia de retomada de obras paradas e buscar ampliação da oferta de recursos para financiamento do BNDES e da Caixa. A retomada de obra de infraestrutura melhora a competitividade do país e ajuda a melhorar os indicadores sociais porque uma boa parte das obras vai ser em saneamento e habitação.”

Estado ou setor privado

“Não deve ocorrer uma ampliação da produção do setor privado por causa do cenário de crise, tem capacidade ociosa. Mas o país consegue retomar o investimento via infraestrutura. Uma parte é investimento pequeno, de orçamento público, e a maior parte é via concessão de financiamento para o setor privado.”

Desoneração da folha

“O resultado de desoneração da folha foi muito baixo.”

Meta de emprego

“Se houver uma combinação de aumento de exportação e retomada de obras no setor de infraestrutura, a gente calculou que será possível gerar que em torno de 2 milhões de emprego ao ano. E o impacto da renegociação das dívida do SPC vai aumentar a capacidade das pessoas de gasto, o que deve gerar quase de 500 mil empregos. Para colocar uma meta modesta, no mínimo vamos gerar 8 milhões de empregos ao ano.”

Paulo Guedes, assessor econômico de Jair Bolsonaro (PSL)

Paulo Guedes (Gnews)

Reprodução GloboNews

O economista não fez comentários sobre o mercado de trabalho na entrevista à Globonews. No programa de governo, o PSL diz: “Nossa intenção é criar um ambiente favorável ao empreendedorismo no Brasil. Assim, valorizaremos talentos nacionais e atrairemos outros do exterior para gerar novas tecnologias, emprego e renda aqui. (...) Quebraremos o círculo vicioso do crescimento da dívida, substituindo-o pelo círculo virtuoso de menores déficits, dívida decrescente e juros mais baixos. Isso estimulará os investimentos, o crescimento e a consequente geração de empregos.”

Estado ou setor privado

“As economias de mercado são historicamente o maior instrumento de geração de renda, emprego, prosperidade e inclusão social. Graças ao Liberalismo, bilhões de pessoas estão sendo salvas da miséria em todo o mundo. O Liberalismo reduz a inflação, baixa os juros, eleva a confiança e os investimentos, gera crescimento, emprego e oportunidades.”

Desoneração da folha e meta de emprego

O programa do PSL não menciona esses pontos especificamente.

Pérsio Arida, assessor econômico de Geraldo Alckmin (PSDB)

Persio Arida (Gnews)

Reprodução GloboNews

“De um lado o mercado de trabalho está fraco porque a economia está fraca. Nós tínhamos a expectativa no começo do ano de crescer 3% para este ano agora. O crescimento esperado está caindo para perto de 1%. A razão mais importante é porque houve uma perda de confiança da capacidade do país de continuar empreendendo reformas. Se nós elegermos um presidente, espero que seja o Geraldo Alckmin, que é comprometido com reformas modernizantes e tenha articulação política necessária para viabilizá-las, a confiança volta. Com isso a economia naturalmente passa a crescer muito mais e o mercado de trabalho vai começar a absorver parte desse enorme estoque de desempregados que nós temos.”

Estado ou setor privado

“Nós não estamos pensando em fazer políticas setoriais para incentivar emprego. É tentador dizer ‘olha, vamos criar uma frente de trabalho para gerar emprego nesse ou naquele setor’. Na prática acaba sendo mais uma intervenção na economia. O importante para o governo é montar um bom marco regulatório e dar segurança jurídica para incentivar o investimento privado. Quem vai gerar empregos é a iniciativa privada. O papel do governo é criar um ambiente de negócios que atraia investimentos para o Brasil e faça com que o setor privado invista mais. E nisso, o emprego naturalmente reage.”

Desoneração da folha

“Do ponto de vista conjuntural, a prioridade é combater o déficit público. A desoneração não ajuda nesse sentido. Do ponto de vista estrutural, nós temos sim problema de oneração excessiva da folha. Você vê isso claramente pelo tamanho da informalidade na economia brasileira. Nós temos hoje uma informalidade muito grande, que é resultado da excessiva oneração da folha. Claro que a reforma trabalhista foi um excelente avanço, (...) mas nós temos ainda uma questão importante: a oneração da folha. Para diminuir a informalidade, é importante reduzir, estruturalmente falando, os encargos sobre folha. Eu insisto nesse ponto não só para reduzir a informalidade como se fosse um bem em si mesmo. Mas é que a produtividade está associada às relações formais de trabalho. Reduzir a informalidade, na verdade, é fundamental para aumentar a produtividade no país.”

Meta de emprego

“Se o país crescer 3,5% o ano que vem, o que é perfeitamente factível, nós teremos geração de 2 milhões a 2,5 milhões de postos de trabalho.”

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