Reajuste para os vencimentos de ministros do Supremo e do procurador-geral da República, aprovado pelo Senado, afetará diretamente o próximo governo, principalmente por causa do efeito cascata que pode aumentar salários de outros servidores.
Eunício Oliveira colocou a "pauta-bomba" para votação na noite de terça-feira: aumento do teto pode afetar também outros funcionários públicos.
Os salários de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do procurador-geral da República ganharam um aumento de 16,38% ontem. A partir de 1º de janeiro, esses servidores passarão a receber R$ 39,2 mil — atualmente, o valor é de R$ 33,7 mil.
O plenário do Senado Federal aprovou, em votação nominal, por 41 votos a 16, o PLC 27/2016, que prevê o reajuste à categoria. A alteração, contudo, tem efeito cascata, eleva o teto do funcionalismo público e pode conceder automaticamente aumento para as carreiras de juízes, procuradores, promotores e parlamentares. A proposta segue para a sanção da Presidência da República e afetará diretamente a gestão de Jair Bolsonaro.
Contra reajuste do STF, Requião diz que Senado votará 'sob ameaça de retaliação'
Parecer da Comissão de Assuntos Legislativos do Senado, feito por técnicos da assessoria legislativa da casa, aponta que o custo extra no orçamento será de R$ 4,1 bilhões por ano. Isso porque a remuneração dos ministros serve de base para o pagamento de outras categorias no serviço público.
No Judiciário, o custo extra será de R$ 717,1 milhões, enquanto no Ministério Público a cifra chegará a R$ 258 milhões. Já no Executivo, o impacto alcançará R$ 400 milhões. E para os estados, os custos podem ser de R$ 2,6 bilhões anuais.
Surpresa
Um dos senadores que votaram contra, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), projeta um valor ainda maior: R$ 6 bilhões por ano. O projeto havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados, mas estava parado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado desde 2016.
A “pauta-bomba”, como é conhecida por parlamentares contrários à medida, foi colocada de surpresa pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira. Ele incluiu o PLC 27/2016 e o PLC 28/2016, com previsão de reajuste também ao procurador-geral da República, com ganhos mensais fixados no mesmo patamar definido para os ministros do STF, sem consultar previamente parlamentares e líderes.
Durante a apreciação, Eunício indicou o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) para dar o parecer dos projetos. O senador defendeu o aumento, mas apontou que, com o decurso de mais de dois anos de tramitação, havia a necessidade de adequações para ajustar o texto às condições atuais.
Por isso, afirmou ter feito alterações para evitar “a leitura incorreta” de que o aumento poderia ser retroativo ao ano de 2016 — quando a proposição foi apresentada. De acordo com Bezerra, o projeto não trará impacto financeiro, já que o auxílio-moradia pago a juízes e ministros será extinto.
Crise
O líder do MDB no Senado, Romero Jucá (RR), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) reconheceram que, em meio à crise financeira na qual o país se encontra, não seria o melhor período para conceder aumento salarial.
No entanto, a necessidade de se aprovar o reajuste foi atribuída à boa relação que o Legislativo deve manter com o Judiciário. “Vou votar a favor porque respeito a autonomia do Judiciário e existe o teto de gastos”, disse Jucá, que não conseguiu a reeleição no Congresso.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que deu parecer contrário ao projeto na CAE, disse novamente que o aumento seria equivocado para o momento no qual o país vive, por causa do efeito cascata.
De acordo com ele, devido à falta de previsão orçamentária, o projeto poderia ser considerado, inclusive, inconstitucional. “As violações são flagrantes no texto e também no mérito, já que esse projeto pode representar a deterioração das contas públicas”, argumentou o senador.
O senador José Reguffe (sem partido-DF) também foi contrário ao reajuste. “Esse aumento dos ministros do STF é um absurdo e um total desrespeito ao contribuinte brasileiro. E ainda vai gerar o aumento do teto constitucional e o efeito cascata. Uma irresponsabilidade total”, concluiu.
A senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o aumento nos salários dos ministros “não tem cabimento e é ofensivo à população que sofre com desemprego e baixa renda”.
O texto aprovado pela Câmara tem datas que já expiraram, prevendo que o primeiro aumento salarial ocorreria em junho de 2016. Questionado por jornalistas, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, evitou falar sobre o assunto. Na ocasião em que o aumento foi avaliado, em uma reunião administrativa, a ministra Cármen Lúcia, então presidente da Corte, foi contra a proposta e criticou duramente o reajuste.
O último aumento de salário concedido aos ministros do STF, que serve de teto para o funcionalismo público em todo o Brasil, ocorreu em janeiro de 2015. O valor final foi fixado em R$ 33.763,00.
Na mesma ocasião, foi estipulado um número idêntico para a remuneração do procurador-geral da República e para o subsídio mensal de deputados e senadores.
Fonte: EM