Otávio do Rêgo Barros, o porta-voz da Presidência, até tentou despistar. Foi curto ao comunicar a demissão do ministro Gustavo Bebianno, e depois discorreu com bem mais detalhes sobre a assistência que o governo vai dar para policiais e bombeiros que trabalharam no resgate das vítimas de Brumadinho e a política governamental para portos e aeroportos.
Não colou. Cem por cento das perguntas dos jornalistas presentes ao anúncio tiveram tema único: Bebianno.
O xis da questão — Não poderia ser diferente. Afinal, o governo tem apenas 50 dias de instalado. E um ministro já dançou por conta dos mesmos motivos que geraram a crise da Lava Jato e a subsequente vitória do presidente Bolsonaro: financiamento de campanha.
Bolsonaro, é claro, se blindou (ou tenta). Não passou recibo. Algo que o mundo político ainda espera para ver o desdobramento.
Aliás, fora os deputados federais, dez entre dez políticos, com mandato ou sem, dizem que o xis da questão é o mesmo financiamento eleitoral.
Tiraram as doações empresariais, o motivo que vitaminou a Lava Jato, e instituíram o financiamento público. Resultado: o grosso do dinheiro foi para deputados federais com mandato, que ainda tinham que doar 30% para mulheres, e o resto ficou sem nada, nem os candidatos a federal sem mandato, muito menos os estaduais. Foi aí que Bebianno entrou. E dançou.
A pressa de Adolfo Viana
Andando ontem pelos corredores da Assembleia, Adolfo Viana (PSDB), que nos últimos quatro anos foi deputado estadual e agora estreia em Brasília como federal, foi abordado sobre os novos tempos na capital:
– E aí, como você está vendo Brasília, com a crise de Bebianno e cia.?
– Tchau. Me desculpe, estou com pressa, vou ter que ir ao banco.
Adolfo foi dos primeiros a alinhar-se com Bolsonaro.
Secretariado sem surpresas
Rui Costa fechou ontem o secretariado para o 2º mandato sem maiores surpresas. Cibele Carvalho permanecerá na Serin; Josias Gomes fica na SDR; Carlos Martins vai para a Justiça; e Adélia Maria Pinheiro, para a Secti. A pretensão de nomear Luiz Caetano (PT), deputado reeleito que não pôde assumir, e Isaac Carvalho (PCdoB), federal eleito também barrado pela Justiça, não vingou. Eles estão impedidos de ocupar cargos públicos.
Emergência nas comissões
Forçado a decretar o turnão até que a pendenga sobre o restaurante se resolva, Nelson Leal (PP), presidente da Assembleia, montou esquema de emergência para fazer com que as comissões funcionem pela manhã. Vai dar transporte e almoço na cantina, em acordo com a Assalba. Hoje, a Alba vai abrir as propostas da nova licitação. Se não houver maiores percalços, em pouco tempo tudo volta ao normal.
Cacique Fred, um índio entre servidores da Alba
A longa fila para a regularização dos novos servidores da Assembleia ontem tinha algo diferente em cena: um índio, devidamente paramentado, com penacho e tudo.
Era o Cacique Fred, ou Itamawy Pataxó, da Aldeia Mira Pé, em Poto Seguro. Vai trabalhar com o deputado Jacó (PT). Ele acha normal que as pessoas estranhem um índio trajado conforme as tradições em tais ambientes.
– As oportunidades para pessoas das comunidades indígenas são poucas. Além de mim, só tivemos o Carun, ou Maicon, com o deputado Yulo, e o Cacique Zeca, com João Durval Carneiro, quando era senador.
Maicon rendeu intensa polêmica por andar de penacho e nu. Mas prevaleceu o direito.
Fonte: Atarde