Dizem que não há pior mentira do que aquela contada a si mesmo. Pois bem!
Desde que decidiu renunciar ao cargo de Prefeito de Salvador para concorrer ao Governo da Bahia, tenho observado com certa curiosidade a postura do candidato ACM Neto.
No lançamento de sua candidatura em dezembro disse que “Alguém de fora não vai resolver o pleito na Bahia”. Tal declaração foi um claro recado ao Presidente Jair Bolsonaro e a João Roma, também postulante ao Palácio de Ondina. E até a definição do primeiro turno das eleições foi assim! Neto seguiu sozinho sua caminhada sem fazer alusão à campanha nacional. Vez ou outra fazia afagos momentâneos ao ex-presidente Lula e mantinha distância sabática do Presidente Bolsonaro.
Sabendo que a Bahia é um dos maiores redutos políticos do ex-presidente Lula, Neto decidiu não afrontá-lo, imaginando que parte do eleitorado do petista também seria seu. Imaginava mais: que esse eleitorado fosse suficiente para vencer no primeiro turno. Ledo engano!
Ao optar pela total isenção com relação à polarizada eleição nacional, Neto ignorou o adágio popular segundo o qual “quem fica em cima do muro, toma tiro pelos dois lados”. Imaginou inocentemente que o PT permitiria a utilização gratuita da força política de Lula em seu benefício.
O que Neto não imaginava era o tamanho do prejuízo que teria com a decisão de ignorar o pleito nacional. Resumo da ópera: parte do eleitorado do Presidente Bolsonaro (o bolsonarista raiz) manteve-se fiel ao candidato João Roma e a grande maioria do eleitorado de Lula, sobretudo o do interior, voltou para casa na reta final da eleição, o que somente Neto não previu. O grave erro estratégico poderia ter lhe custado uma vergonhosa derrota já em primeiro turno, mas não lhe deixou escapar ileso da humilhação de terminar em segundo lugar numa eleição em que liderou a maior parte do tempo.
Agora a Neto restam apenas dois martirizantes caminhos: aliar-se imediatamente ao Presidente Jair Bolsonaro e enfrentar o petismo na Bahia ou continuar trilhando a marcha da insensatez de crer que o eleitorado do ex-presidente Lula opte em escolhê-lo para o governo preterindo Jerônimo, o puro sangue do PT.
A verdade é que ACM Neto ainda não entendeu a profundidade do lulopetismo no Estado, sobretudo para além dos limites territoriais da região metropolitana de Salvador. Se quiser governar a Bahia e se firmar como um líder político da estirpe de seu avô, terá que enfrentar o lulopetismo de forma sistemática, firmando um combate onde não cabe aceno à esquerda e nem tergiversação com palavras de efeito.
Ou age com coerência e segue uma linha própria ou corre-se o risco de perder a credibilidade, como ocorrera com Neto nas eleições de 2018 ao desistir da disputa aos quarenta e cinco do segundo tempo, deixando aliados à própria sorte.
A experiência recente do país no mostra que entre a conveniência política e coerência na postura, esta última tem se saído melhor. O eleitorado não é mais o mesmo de outrora. O fenômeno das redes sociais e o maior acesso à informação podem ser aliados poderosos dos cidadãos na hora de medir em quem votar.
Não demorou muito para que mais uma previsão de ACM Neto se revelasse equivocada: com o advento do segundo turno, a única chance de vitória de Neto, mesmo que pequena, depende de uma aliança com Presidente Jair Bolsonaro, já que seu oponente terá maciço apoio do ex-presidente Lula no pleito estadual, como ocorrera no primeiro turno.
Para Neto fica a lição dos provérbios que diz “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”.
Por: Alexsandro Santiago