Por volta das 21 horas do último domingo (3/11) um grupo de ciganos chegou ao hospital municipal de Medeiros Neto em busca de atendimento para um cigano conhecido popularmente como “Pereira Cigano”, irmão do vereador Diran. O jovem sentia naquele momento aceleração cardíaca e possível pressão alta. Mesmo sendo um quadro aparentemente de emergência, o médico plantonista, Dr. Wilson, que atendia uma paciente naquele exato momento, pediu para que Pereira aguardasse a vez para ser atendido. A partir daí iniciou-se por parte dos ciganos uma sessão de desacatos, ameaças físicas e agressões verbais.

A Polícia Militar foi acionada, mas, quando chegou ao local o grupo já teria ido embora. Na manhã de segunda-feira (4/11), Dr. Wilson compareceu a Delegacia de Polícia e registrou um boletim de ocorrência de ameaça de morte e agora o delegado Bel. Sanney Simões deverá ouvir as partes.

Ainda muito assustado com tudo que aconteceu, um enfermeiro que pediu para não ter o seu nome citado nos recebeu em sua residência e relatou momentos de pânico que ele e demais funcionários viveram na noite anterior. Contou que Diran Alves Reis, conhecido na cidade como vereador Diran Cigano, parecia ser o mais exaltado. Alterado, o edil gritava com os funcionários da unidade médica, gerando uma grande confusão, inclusive disse para Dr. Wilson que se o seu irmão viesse a morrer, ele [Diran Cigano] “meteria uma bala na cara do médico”. Usando palavras de baixo calão e de caráter homofóbico, o vereador esbravejava e intimidava o médico e os demais funcionários.

Em visita ao hospital, a reportagem do site “Outra Notícia” encontrou funcionários e diretores ainda transtornados e indignados com o que aconteceu. Uma enfermeira, que também não quis se identificar, relatou que essa não foi a primeira vez que fatos dessa natureza aconteceram envolvendo ciganos. “Eles [os ciganos] não respeitam ninguém, chegam gritando e ameaçando a todos. Aqui quase todos os funcionários têm uma história pra contar envolvendo ciganos”, desabafou. “Existe um longo histórico de desacatos, ameaças e falta de respeito com funcionários e pacientes”, finalizou. O secretário de Saúde, Fabiano, nos disse que ainda não tinha conversado com as partes envolvidas e que medidas administrativas serão tomadas.

O site “Outra Notícia” falou com o vereador Diran Cigano por telefone na manhã de segunda-feira e ele contou que estava acompanhando seu irmão num cardiologista em Eunápolis. O parlamentar preferiu falar pessoalmente com nossa reportagem e disse que irá dar a sua versão sobre os fatos assim que chegar de viagem.

Em sua rede social, o vereador postou uma nota de esclarecimento relatando sua versão do fato.

Nota de Esclarecimento do vereador Diran Cigano à população de Medeiros Neto:

Tenho consciência de que todos os meus atos desde que fui eleito serão refletidos no meu mandato enquanto vereador. Mas, precisamos saber que antes de estar vereador sou cidadão por direito e sou cigano por cultura.

Aconteceu um fato lamentável ontem no Hospital Municipal de Medeiros Neto, e tão logo se pôde, começaram a postar versões distorcidas, cheias de difamação política, e alguns até denigrem a cultura do meu povo.

Quero dar aqui a versão oficial do que realmente aconteceu:

Meu irmão Cristiano, conhecido popularmente como Pereira Cigano, foi internado em Linhares semana passada e quando recebeu alta o médico nos alertou que no caso de um aumento de pressão e aceleração cardíaca ele fosse levado para algum hospital imediatamente EM REGIME DE URGÊNCIA.

Pois bem, ontem, meu irmão passou mal com estes sintomas e nós o levamos para o hospital muito preocupados e até mesmo agitados por causa do alerta que já tínhamos recebido em Linhares. Chegando ao Hospital, meu irmão não foi atendido como caso de urgência. Preocupado com a vida do meu irmão, eu bati na porta do consultório e constatei que ele estava prescrevendo um medicamento para uma moça. Expliquei para os dois a situação do meu irmão e o médico disse que estava atendendo, sendo assim, eu perguntei à paciente se ela autorizava, diante da minha explicação, que o médico atendesse o meu irmão e a mesma autorizou, pois meu irmão precisava receber medicação imediatamente.

O médico continuou a se negar em atender o meu irmão, desta vez, tecendo ofensas à minha pessoa e à minha cultura.

Caríssimos, confesso que nesse momento houve uma discussão no hospital, mas, quero dizer que se eu não fosse vereador teria sido da mesma forma. Eu teria exigido um atendimento de urgência para o meu irmão e ele teria negado o atendimento por sermos ciganos. Afinal, esta não é a primeira vez que ele demonstra tal preconceito com a nossa família.

Eu pergunto para vocês: se ele agiu desta forma com um vereador, como deve estar agindo com os cidadãos menos privilegiados?

Se fosse um hospital particular teriam atendido meu irmão como caso de urgência. Mas, principalmente, por estar exercendo o cargo de vereador é que devo me indignar com certos atendimentos no nosso Hospital Municipal e teria feito o mesmo por qualquer outro cidadão que necessitasse de atendimento urgente e imediato.

Neste momento eu me encontro em Eunápolis para onde eu trouxe meu irmão para realizar procedimentos clínicos referentes ao estado de saúde dele e assim que retornar à cidade de Medeiros Neto estarei tomando as devidas providências judiciais, bem como tratarei de esclarecer mais detalhadamente todos os fatos.

Se caso eu acabei decepcionando cidadãos que acreditam no meu mandato, peço perdão e fica aqui o meu sincero esclarecimento.

O fato é que basta ser cigano para ser culpado, ou, no mínimo, suspeito.

“Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.

(Albert Einstein)

Por: Sessé Guimmas