O estudante teve morte cerebral confirmada
"Eu estava com raiva porque apanhei. Aí eu vim gingando e meti nele. A minha intenção não era de matar", disse o pintor Edson Rodrigues dos Santos, 27 anos, ao CORREIO. Ele foi preso na madrugada desta quarta-feira (14) por agredir o estudante de engenharia mecânica Kaíque Moreira Abreu, 22, na sexta (9), no bairro da Graça.
O jovem teve morte cerebral confirmada pela família na tarde de hoje, na sede do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, minutos depois do agressor ter sido apresentado à imprensa. Os aparelhos no Hospital Português devem ser desligados nesta quinta-feira (15).
Durante a apresentação, Edson chegou a tratar o caso como uma fatalidade e disse que apenas falaria na presença de um juiz. Mas, ao sair da coletiva, ele disse estar arrependido do crime. "Eu não queria matar. Eu apanhei e fiquei com raiva. Meu celular ficou todo quebrado", disse o acusado.
De acordo com a polícia, além de Edson, outros três adolescentes estavam no momento da agressão. Mas apenas um deles, de 15 anos, foi localizado. Um de 17 e um outro de idade não revelada ainda não foram encontrados. A polícia ressaltou que apenas Edson agrediu o estudante. Os adolescentes devem servir de testemunhas.
O motorista do caminhão que deu carona para o grupo depois que o estudante foi agredido também foi localizado. Bruno Ribeiro Fernando Batista, 30, vai responder por omissão de socorro e favorecimento pessoal. Ele e o garoto de 15 anos estão custodiados na sede do DHPP. O adolescente deve ser encaminhado à Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). Já o motorista deve assinar um termo circunstanciado e Edson ficará a disposição da justiça.
Investigações: Segundo a delegada Carmen Dolores, titular da 14ª Delegacia (Barra), a polícia só conseguiu chegar ao acusado porque imagens de câmeras de segurança da rua captaram a placa e o modelo do caminhão. O motorista que deu fuga a Edson estava na noite desta terça-feira (13) nas imediações da Avenida Centenário. Com ele estava o adolescente de 15 anos que prestava serviços ao motorista.
Ainda segundo a delegada, o motorista conhece um amigo de Edson. O veículo, no dia do crime, estava estacionado a cerca de 10 metros de onde o crime aconteceu.
De acordo com o delegado José Bezerra Júnior, diretor do DHPP, nas imagens das câmeras de segurança é possível ver que o veículo estaciona na rua por volta das 22h da quinta-feira (8). E, já por volta das 2h50, é possivel ver duas pessoas caminhando rápido em direção ao caminhão, um deles seria o Edson e o outro seria o adolescente de 15 anos.
"Essa agressão seria em qualquer pessoa que estivesse passando e, infelizmente, era o Kaíque que passava na hora. Ele (Edson) visualizou o Kaíque e inicialmente deferiu um soco, a vítima veio a cair, e em seguida ele também chutou. Depois saiu do local utilizando o veículo que estava estacionado. Todos presenciaram muito bem o acontecido, mas ninguém se interessou a prestar socorro", explicou o delegado.
Até o momento, Edson vai responder por tentativa de homícidio. Mas assim que o hospital entrar em contato com à polícia para confirmar a morte do estudante, o acusado passa a responder por homicídio, podendo pegar até 30 anos de prisão.
Dia do crime: De acordo com a família, era o terceiro Carnaval do estudante que se formaria no próximo ano. Às 2h30, Kaíque saiu da casa de um amigo, na Rua Manoel Barreto, na companhia de um primo e mais três amigos para o circuito Dodô. Minutos depois ele se perdeu do grupo no meio da multidão. Sozinho, Kaíque decidiu voltar para casa, às 3h, quando a pouco menos de 500 metros foi supreendido com um soco no rosto. Ao cair, a vítima ainda levou um chute do agressor.
Desacordado, o estudante ainda chegou a ser socorrido por uma família que passava pelo local. Um dos membros era uma médica, que aguardou no local até a chegada Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) às 3h30.
Para a família, o que resta agora são as lembranças de um menino brincalhão e o sentimento de justiça. Segundo um tio do estudante, Hayron Hamilton, Kaíque tinha muitos sonhos e era conhecido por ser "chorão" pois não gostava de ser contrariado.
" Uma vida se foi. E a gente só quer justiça. Foi um crime gratuito, sem explicação, sem motivo. Uma perda pra família. Eu cresci, fui criado com ele, mesmo sendo tio, temos praticamente a mesma idade. É muito difícil. Ele sempre foi o chorão da família, a gente pertubava e ele chorava", conta o tio.
A tia, a autônoma Claúdia Moreira, 39, disse que o pai e mãe de Kaíque estão abalados e ainda não acreditam na morte do filho. Os familiares pensam na possibilidade de doação dos órgãos. "Kaíque tinha muitos sonhos que precisavam ser realizados. Ele iria se formar no próximo ano. Ele (Edson) destruiu toda uma família, mas foi com a família errada porque vamos cobrar justiça", acrescentou.
Fonte: Correio24h