EUNÁPOLIS; Após quase 21 anos, os quatro acusados pelo Ministério Público de terem planejado o assassinato do radialista Ronaldo Santana sentaram no banco dos réus.
Depois de sucessivos adiamentos, teve início, por volta das 8h52 da manhã desta segunda-feira (14), o julgamento do ex-prefeito Paulo Dapé, e dos então servidores comissionados da prefeitura, Valdemir Batista de Oliveira (atualmente vereador), o advogado Antônio Oliveira Santos (Toninho da Caixa) e a sacerdotisa Maria José Ferreira Souza, a Maria Sindoiá.
No ano de 2002, o ex-policial militar Paulo Sérgio Mendes Lima foi julgado e condenado. Na ocasião, ele apontou os acusados como contratantes do crime.
Ronaldo Santana, que apresentava um programa na Rádio Jornal de Eunápolis, onde fazia duras críticas à administração do então prefeito Paulo Dapé, foi morto com quatro tiros, na presença do filho Márcio Alan, então menor de idade, quando se deslocava para o trabalho na manhã do dia 9 de outubro de 1997. O assassinato comoveu a cidade e ganhou repercussão nacional.
A previsão é que o júri, realizado no fórum da cidade, no bairro Dinah Borges, dure em torno de três dias.
O QUE DIZ A DEFESA - A reportagem ouviu todos os advogados de defesa dos réus.
Maurício Vasconcelos procurou logo desqualificar a acusação de Paulo Sérgio Mendes Lima, que já cumpriu a pena. "Posso adiantar que o Paulo Sérgio tem sete versões diferentes para o mesmo fato. Vamos negar, com todo vigor, a participação de Paulo Dapé neste evento que tanto chocou a comunidade de Eunápolis", assegurou.
O advogado de Antônio Oliveira disse que o único fato que o liga ao crime é a emissão de cheque no valor de R$ 500,00, que teria sido pago ao pistoleiro. "Esse cheque não foi juntado aos autos porque não existe essa prova. Foi requisitado ao banco naquele período apontado na denúncia. Desde 2013 a gente vem tentando realizar esse júri. É a forma de esclarecer a verdade do que aconteceu", informou o advogado Fabrício Frieber.
Para o advogado Igor Saulo, que atua na defesa de Maria Sindoiá, todo o processo foi forjado, numa perspectiva de condenar pessoas inocentes. “O Ministério Público não trouxe qualquer prova concreta. Hoje é o dia de provar a inocência, não só dela, mas de todos os acusados. O processo vem sendo conduzido há mais de 20 anos de forma política, numa forma de envolver pessoas inocentes. Hoje é o dia de se decretar justiça e a justiça é com a absolvição”, declarou Igor.
Já advogado Antônio Pitanga, que defende Antônio Batista de Oliveira, o Dudu, assegurou que os autos apontam para um único caminho: "que Valdemir Batista de Oliveira, meu cliente, não tem nada a ver com os fatos. A sociedade de Eunápolis tem hoje a oportunidade de por fim a uma grande mentira que foi criada e é sustentada há mais de 20 anos", finalizou Pitanga.
ACUSAÇÃO - O promotor de justiça Luiz Ferreira Neto - que atua na acusação juntamente com o também promotor Ariomar da Silva, diz que, em caso de condenação, a decisão se os réus devem sair já presos do fórum vai caber ao juiz que preside o julgamento, Otaviano Andrade Sobrinho. Ele diz que esse primeiro dia de júri será importante para o Ministério Público formar sua convicção.
"Hoje é um dia de oitivas, que vão ajudar a formar nossa convicção. Os argumentos que formamos até agora podem ser modificados ao longo dessas oitivas. Nos debates, a tese do Ministério Público vai ficar mais clara", disse.
Até o início do júri, a reportagem não encontrou nenhum familiar de Ronaldo Santana no fórum. Quando foi morto, ele era casado com dona Manoela, com que teve o filho Márcio Alan, que hoje trabalha em uma empresa da cidade.
Fonte: Radar64