'Estou aliviada de saber quantas mulheres se apresentaram', diz holandesa que denunciou João de Deus por abuso sexual

Mais de 200 mulheres procuraram o Ministério Público após entrevista com Zahira Leeneke Maus ser exibida na TV Globo. Coreógrafa acredita que 'para a cura começar para as mulheres que foram abusadas', o médium precisa ir para a prisão.

Zahira Leeneke Maus, uma coreógrafa holandesa, relatou ter sido abusada por João de Deus, em entrevista ao Conversa com Bial.

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A coreógrafa holandesa que foi a primeira mulher a relatar publicamente ter sido vítima de abuso sexual do médium João de Deus disse ao G1 estar aliviada por ter incentivado outras mulheres a procurar a Justiça no Brasil.

Depois da entrevista de Zahira Leeneke Maus ao programa Conversa com o Bial, na sexta-feira (7), mais de 240 mulheres relataram ao Ministério Público abusos cometidos pelo médium em Abadiânia (GO). Promotores de Goiás criaram uma força-tarefa para registrar as denúncias, recolher depoimentos dados em outros estados e investigar os casos.

“Eu estou realmente aliviada de saber quantas mulheres se apresentaram desde [a exibição] do programa. Tenho um sentimento positivo, porque foi a razão pela qual decidi dar entrevista pela primeira vez. Foi para abrir a porta pela primeira vez para todas as mulheres e garotas que sofreram abuso se apresentarem. E isso aconteceu”, disse.

O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos. Por meio de nota, João de Deus rechaçou “veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos".

'Cura começa com prisão'

A coreógrafa, que sofreu os abusos há cerca de quatro anos, defendeu a punição do médium João Teixeira de Faria, famoso pelos atendimentos e cirurgias espirituais que faz desde 1976.

“Para segurança e para a cura começar para as mulheres que foram abusadas, ele precisa ir para a prisão. Nós vamos começar a respirar. Nós poderemos respirar de novo, porque eu sinto que cada vítima de João de Deus está na sua própria prisão emocional individual. E já está na hora de nos permitirem ser livres. Viver nossa vida de uma maneira segura”, afirmou.

Promotores detalham o passo a passo das investigações

Após a denúncia, Zahira, que havia se manifestado publicamente pela primeira vez no Facebook, recebeu muitas mensagens nas redes sociais. “Foi um desafio muito grande quando elas começaram a chegar”, afirmou.

“Eu recebi algumas mensagens de ódio e algumas mentiras foram espalhadas sobre mim. Eu desativei meu Facebook, mas ainda deixei minha conta no Instagram. Mas o que é muito importante dizer é: a maioria das mensagens foi de apoio. Eu pude sentir o coração do povo brasileiro.”

Relato do abuso

Na entrevista ao Conversa com Bial, Zahira disse que ouviu falar de João de Deus por intermédio que um amigo. E que esteve mais de uma vez em Abadiânia, em busca de espiritualidade e de cura para um trauma sexual. Ela chegou a ser treinada para ser médium.

Zahira contou que, em uma das vezes, foi convidada para uma consulta particular com João de Deus. E que o médium a levou até um banheiro, na sala dele, e se posicionou atrás dela.

"Aí ele agarrou minha mão direita e a colocou por trás de mim na calça dele. Tem um momento em que você congela. Por que isso está acontecendo? Por que eu tenho que tocar no seu pênis, para ser curada? Ele tem um sofá grande no banheiro. Ele me levou até lá e me botou de joelhos na frente dele. Ele abriu a calça e colocou minha mão no pênis dele. E ele começou a movimentar a minha mão em cima do pênis dele. E eu estava em choque. Eu ainda não posso acreditar nisso. Mas eu estava congelada. E ele continuava falando, conversando, falando sobre minha família. Você está sendo manipulada a acreditar, enquanto ele estava me analisando ou fazendo alguma coisa. Aí ele disse: 'Você deveria sorrir. Você deveria se sentir feliz'. E eu: 'eu não sinto nenhuma alegria'. Isso não é o motivo de eu estar aqui. Aí ele estava se limpando, fechando as calças de novo, ele me levou para o escritório de novo, ele me botou no sofá, abriu um armário com pedras preciosas e disse que eu poderia escolher uma. É como se fosse um pagamento. Isso é um pagamento? O que está acontecendo aqui?”

Zahira disse que sentia como se estivesse sendo manipulada, arrastada para aquela situação.

Dias depois, ela voltou à casa. “Ele me puxou de novo para o banheiro. [...] “Um padrão parecido, mas ele deu um passo adiante. Ele me penetrou por trás e, de novo, esses... Eu nem consigo descrever.”

A coreógrafa contou porque relutou em tornar público o seu caso. "Eu sei que tenho sido criticada: 'Por que você está vindo com a sua história, se ele está curando milhares de pessoas?' E essa é uma das razões do porquê eu não disse nada. Porque se fosse só eu, eu que engula, porque ele está curando milhares de pessoas, certo? Mas agora eu sei, ele está abusando de centenas de mulheres e meninas".

Fonte: G1

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