Daniel Marinho, suspeito de matar Rodrigo Abreu a facadas, teve prisão solicitada; testemunhas dizem que crime foi motivado por homofobia
A Polícia Civil (PC) divulgou nota nesta terça-feira (19) informando que está à procura Daniel Marinho Paixão, acusado de assassinar Rodrigo Abreu Santos, de 23 anos, no dia 1° de novembro, em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O homicida teve a prisão solicitada à Justiça pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), que apura o crime.
De acordo com a delegada Clelba Teles, titular da unidade policial, Daniel, que é conhecido pelo apelido de "Quatro Olhos", fugiu logo após o crime, ocorrido num bar, na região da Lagoa da Paixão. A prisão temporária dele foi deferida pelo 1° Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri. Testemunhas ouvidas pelo CORREIO dizem que o crime foi motivado por homofobia.
"Qualquer informação que possa auxiliar na prisão de Daniel pode ser encaminhada à polícia por meio dos telefones do Disque Denúncia, 3235-000, em Salvador, e 181, no interior. Não é necessário identificar-se", diz a nota da PC.
Polícia procura Daniel Marinho Paixão, acusado de assassinar Rodrigo Abreu Santos; ele é conhecido pelo apelido de 'Quatro Olhos' e fugiu logo após o crime.
‘O que é que você quer, viadinho?'
Antes de ser morto com uma facada no pescoço, Rodrigo Abreu Santos, 23 anos, pagou um litrão de cerveja para o assassino. O bandido, que ainda não foi identificado pela polícia, também pediu R$ 10 ao jovem, que bebia no Bar da Negona, em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Rodrigo havia acabado de retornar de Madre de Deus, na Região Metropolitana, acompanhado do amigo, Herick Deivid Santos, 22, na noite da última quinta-feira (31). Decidiram tomar uma cerveja. Chegaram no bar por volta das 23h, quando só havia a proprietária e a companheira.
À reportagem, Herick contou que viu quando o bandido surgiu, já na madrugada, e cerca de duas três horas depois, matou o amigo. Em seguida, quando as vítimas buscavam ajuda com policiais que passavam em uma viatura, disse ao policial: “Que nada, isso é briga de viado”, revelou a testemunha, ao defender que o crime foi motivado por homofobia.
“Ele e outro deram boa noite quando chegaram e, pouco depois, pediram uma cerveja. Nós pagamos por educação. Em seguida, mais R$ 10 e falamos que a gente não ia dar, porque já havíamos dado a cerveja”. A partir daí, lembra, o criminoso, que aparenta 28 anos, iniciou uma sessão de agressões verbais.
À reportagem, a Polícia Civil afirmou que o crime é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios Bahia de Todos os Santos (DH/BTS). “A autoria e motivação a serem esclarecidas”, resumiu a pasta.
‘Briga de viado’
Antes da morte, e após a série de xingamentos, os jovens chegaram a se explicar ao agressor: “A gente não tem obrigação de pagar mais nada, temos a nossa conta, também, não vamos dar. E ele: O que é que você quer, viadinho? Hein, viadinho?”, falou para ele [Rodrigo]”.
Herick destaca que embora não tenha tantas informações sobre o homem, “todo mundo disse que não foi a primeira vez que ele tratou um gay assim, tanto que judiou, falou ao policial que a briga tinha acontecido entre nós, e fugiu”.
Ele conta que tudo aconteceu muito rápido. No momento em que foi até o caixa pegar o cartão de crédito, ouviu gritos: “Era a mulher do bar. Ele já estava ferido”, lamenta, ao resumir o momento em que viu o amigo implorar por socorro. “Ele disse: ‘Me ajuda, por favor’”.
E resolveu quebrar uma garrafa para atingir o agressor, que correu com a faca na mão. Quando viu que não alcançaria o homem, apoiou Rodrigo no ombro e foi até a pista principal do bairro, onde abordou uma viatura da Polícia Militar.
Comoção
A vítima foi levada para o Hospital do Subúrbio, mas teve morte cerebral. Rodrigo foi enterrado na manhã desta sexta-feira (8), sob clima de pesar e comoção. Filho mais velho de dona Geovania Maria, Rodrigo estava feliz, segundo Herick Deivid.
Atualmente, dividia o tempo entre fazer unha e ir ao terreiro de candomblé onde era “feito”. “Nós éramos irmãos de axé, mas nos aproximamos na vida adulta. É muito triste ter visto e vivido aquilo”.
Inconsolável, a mãe do jovem preferiu não falar com a reportagem. Consolada pelos familiares, Geovania, que também tem uma filha de 21 e um garoto de quatro, permaneceu debruçada no caixão do mais velho durante todo o sepultamento, realizado nesta manhã, no Cemitério Municipal de Plataforma.
Por todos os lados, cartazes estampavam o sentimento de dor e indignação daqueles que perderam o jovem para por razões que sequer conseguem compreender. “Por que? Eu só queria saber o porquê? A gente que façam alguma coisa, porque nada, neste mundo, vai trazer meu menino de volta, mas esse homem precisa pagar”, desesperou-se.
Ao final do cortejo, familiares e amigos chegaram a realizar um ato na via principal de Plataforma. Apenas os pedidos de justiça sobressaíram em meio às lágrimas.
Secretaria de Justiça lamentou
A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) emitiu nota de pesar pela morte do jovem e da transexual Ana Paula dos Santos, encontrada sem vida em Jequié, também na semana passada.
“A SJDHDS lamenta profundamente a perda de duas vidas por crimes de ódio. Na última segunda-feira (04), a jovem Paula dos Santos, mulher transexual, foi encontrada morta no município de Jequié. Nesta quinta-feira (07), o jovem Rodrigo Santos, vítima de um ataque brutal no bairro de Fazenda Coutos, também faleceu. A SJDHDS, por meio da sua Superintendência de Direitos Humanos, está acompanhando os casos junto ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Secretaria de Segurança Pública (SPP-BA). Mais uma vez, reafirmamos o compromisso do Governo do Estado com a promoção da igualdade, do respeito e da cultura de tolerância. Estes fatos devem ser investigados e punidos de maneira exemplar. Preocupa o aumento expressivo da violência contra a população LGBT motivadas pelo discurso de ódio, que teve um crescimento exponencial no último ano. Novamente, lembramos que desde junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a homofobia é considerada crime. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito”
Fonte: Correio24h