A campanha “Criança é pra ser Cuidada”, lançada pela ONG ChildFund Brasil, aponta dados coletados em todo o Brasil entre 2017 e 2021, referentes à violência contra a criança no país.
A Bahia é o 4° estado em número de óbitos de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, com taxa de 6,8, atrás somente de Roraima, Ceará e Acre. As informações do relatório parcial foram reunidas pela Pesquisa Nacional da Situação de Violência Contra Crianças no Ambiente Doméstico.
No tópico da violência sexual, a região de maior destaque foi a Sudeste, com taxa de atendimento de 2,16 por 100 mil habitantes.
No entanto, conforme explica o diretor executivo do ChildFund Brasil, Maurício José Cunha, os números não significam que a maior parte dos abusos acontecem lá. “É possível que apareça mais no Sudeste porque a rede de proteção no Sudeste seja mais estruturada, haja mais notificações, mas isso acontece em todas as regiões”, aponta ele.
“Quanto mais você tem a rede de proteção estruturada, conselhos tutelares que funcionam, hospitais de referência que funcionam no atendimento à violência sexual, mais notificação vai ter. É um fenômeno presente em todas as regiões e em todas as classes sociais e muito mais comum do que a gente imagina”, afirma.
O diretor reforça a necessidade de quebrar o estigma de que o abuso sexual é realizado somente por estranhos, sendo importante atentar-se aos abusos cometidos dentro de casa, que compõem a maioria dos casos. Maurício ainda aponta que os dados de 2020 refletem uma subnotificação em decorrência da pandemia.
“Certamente a violência aumentou, mas as notificações no começo da pandemia diminuíram porque os grandes aliados nossos são os professores. Como as crianças estavam longe dos professores, a notificação caiu, mas a gente sabendo que a violência aumentava. Os professores identificam os sinais de violência contra a criança, principalmente a doméstica”, destaca.
Grupos prioritários
A presidente da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), Ana Paz, observa esse mesmo poder de atuação no combate à questão.
“Se você está acompanhando o paciente há longo prazo, dentro de um hospital, é mais fácil de ter uma rede de profissionais diversos, que podem atuar e tornar mais fácil o encaminhamento”, diz a médica.
Em 2021, o grupo infantil voltou a ser o que mais sofreu violências, pelo número de denúncias. Os dados coletados pela ChildFund também mostraram os números de proposições legislativas em cada estado, revelando a região Norte como aquela de maior número de propostas relacionadas ao tema das violências contra as crianças, com destaque para Amazonas, Pará e Roraima. A Paraíba foi o estado do Nordeste com maior atuação em proposições legislativas para este tipo de enfrentamento, enquanto a Bahia ocupou o segundo indicativo mais baixo do país, junto a Alagoas.
“Norte e Nordeste em geral ainda têm uma rede de proteção muito fragilizada em relação ao Sudeste. Isso traz uma vulnerabilidade muito maior. Não posso afirmar que crianças no Nordeste sofrem mais violência, mas se a rede de proteção for mais frágil, certamente ela será menos atendida e menos protegida”, explica.
A presidente da Sobape destaca ainda a atenção redobrada que se deve ter às demais violências para além da física.
“Uma coisa que é bastante preocupante é que a violência que é dada queixa, normalmente, são violências físicas, que deixam marcas. As marcas de ordem física são mais fáceis de ver e a gente sabe que acontece muita violência de ordem psicológica, de rebaixamento da criança, desprestígio dela”, pontua.
“Essas violências são tão graves quanto e não deixam sequelas aparentes, repercutindo, mais adiante, na saúde mental”.
Fonte: Atarde