Um estudo científico, cujos resultados foram divulgados nesta quinta-feira (21) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), detectou que a dengue pode representar um risco à vida do feto. Com isso, a zika, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, deixa de ser a única infecção por arbovirose a ser considerada letal para um bebê em desenvolvimento.

Conforme a pesquisa, publicada na edição de setembro do periódico The Lancet, ter dengue durante a gestação quase dobra a probabilidade de um bebê nascer morto ou morrer durante o parto, enquanto a dengue severa aumentaria em cinco vezes as chances de um natimorto – nome dado à morte do feto acima de 500g dentro do útero ou durante o parto.

Os pesquisadores chegaram a essa constatação a partir da análise dos registros de sistemas de informações brasileiros. Para chegar a tais resultados, os pesquisadores cruzaram os dados de mais de 162 mil natimortos e 1,5 milhão de nascidos vivos, sendo que, desses, 275 natimortos e 1.507 nascidos vivos tinham sido expostos a dengue.

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Apesar de, desde os anos 1980, o Brasil passar por sistemáticas epidemias de dengue, a doença era considerada letal apenas quando atingia sua forma hemorrágica, que agravava o quadro do infectado podendo levar a morte. No entanto, com a epidemia de anomalias congênitas associadas à zika ocorrida em 2015, a investigação científica se voltou para os efeitos das infecções virais durante a gestação.

Este é o primeiro estudo realizado em larga escala a demonstrar a associação, segundo a Fiocruz. Apenas um estudo anterior, com uma pequena amostra de um hospital, indicou a relação entre a infecção e natimorto.

A autora principal do estudo é a pesquisadora do Cidacs Enny Paixão, doutoranda da London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres.

O artigo com o resultado da pesquisa contou com a autoria dos pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) Enny Paixão, Mauricio Barreto, Maria Glória Teixeira e Laura Rodrigues, em parceria com pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), Universidade de São Paulo (USP) e da London School of Hygiene & Tropical Medicine, no Reino Unido.

Dados

O estudo foi realizado com dados obtidos entre dezembro de 2012 e janeiro de 2016 do Sistema de informação de Nascimentos (Sinasc), Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan).

A análise indicou que o risco de natimortos, entre todos os nascimentos registrados no período, foi de 11 por 100 nascidos vivos. Já quando considerado apenas a amostra das mães infectadas por dengue, a taxa de incidência foi de 15 por 1.000. Quando considerada a gravidade da doença, a dengue severa aumenta o risco de natimorto em cinco vezes, cerca de três vezes mais que a dengue comum.

Os mecanismos pelos quais a dengue causaria o nascimento de natimortos é desconhecido, mas os pesquisadores apontam três hipóteses para explicar o fenômeno: os sintomas de dengue afetariam diretamente o feto; a dengue causaria mudanças na placenta; ou o próprio vírus teria um efeito direto no bebê em formação.

Em 2015, cerca de 2.6 milhões de bebês foram considerados natimortos no mundo. A estimativa é que infecções virais, no geral, representam cerca de 14% de todos os óbitos fetais. Algumas infecções possuem forte evidência científica de associação com natimortos: sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus e parvovírus B19.

Confira no site da Fiocruz Bahia entrevista com a autora principal do estudo, a pesquisadora do Cidacs Enny Paixão, doutoranda da London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres.

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