No ano passado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças divulgou o relatório anual de Vigilância de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), em que constam as informações de que mais de dois milhões de casos de clamídia, gonorreia e sífilis foram relatados nos Estados Unidos em 2016. Desses, a maioria (1,6 milhão) foi de clamídia.
A clamídia é uma DST muito comum e apresenta sintomas parecidos com os da gonorreia, como corrimento e dor ao urinar. Se não tratada, pode levar ao desenvolvimento da Doença Inflamatória Pélvica (DIP), responsável por causar alterações tubárias nas mulheres e infecções na uretra, nos homens. Como consequência, causa a infertilidade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 25% dos casos de infertilidade no mundo são causados pela clamídia. A estimativa da entidade é que anualmente ocorrem cerca de 92 milhões de novos casos de infecção pela doença. Existem 2,8 milhões de pessoas que estão infectadas e não sabem.
Mulheres jovens são mais suscetíveis a adquirir a doença. Quase 10% das brasileiras entre 15 e 24 anos atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram identificadas com clamídia em 2017, segundo estudo do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids da Secretaria de Saúde de São Paulo.
De acordo com a ginecologista pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Marina Barbosa, a doença é mais comum em adultos jovens com múltiplos parceiros e praticantes do sexo sem uso de preservativo. Segundo ela, em períodos de festa, como carnaval, os cuidados devem ser redobrados. “A pessoa pode evitar ter os sintomas da doença e preservar seu potencial de fertilidade”, diz.
Complicações
A presença de bactérias no colo do útero, contraídas pela doença, tornam o risco de infertilidade ainda maior. De acordo com a médica, esse aumento ocorre porque os microrganismos migram para o corpo do útero – parte mais volumosa do órgão, responsável por “conectar” as demais. Depois de se espalharem, podendo atingir, inclusive, as trompas e os ovários, as bactérias causam sintomas como corrimento, dor pélvica, febre, septicemia e mal-estar.
“Essa ascensão pode ocorrer de forma espontânea ou após manipulação em consultório médico. Durante a inserção do DIU, uma biópsia de endométrio ou curetagem, por exemplo. Isso leva à doença inflamatória pélvica, ou seja, infecção do endométrio, trompas uterinas, ovários e estruturas contíguas”, explica Marina.
A trompa uterina é o local onde há o encontro do espermatozóide com o óvulo. Quando as trompas não funcionam adequadamente, a paciente pode se tornar infértil. “É possível até que ocorra a fertilização na trompa, mas o embrião não é transportado adequadamente para dentro do útero e ocorre a gravidez ectópica – gestação no lugar errado –, considerada de risco para a mulher”, diz a especialista.
Nos homens, a DIP ocorre quando a infecção por clamídia ou gonorreia leva à infecção do epidídimo, local onde o sêmen fica armazenado, junto ao testículo. “Essa inflamação pode diminuir o número total de espermatozoides e a sua movimentação, fatores que afetam a fertilidade masculina”, conclui.
Fonte: Atarde