Um novo tipo de terapia contra o câncer que "desativa o freio" do sistema imunológico humano e é considerada uma nova esperança para a cura da doença acaba de ser premiada com o Nobel de Medicina. Esse é o objeto de pesquisa dos imunologistas James P. Allison, dos Estados Unidos, e Tasuku Honjo, do Japão, que foram anunciados nesta segunda-feira como os vencedores do Nobel.
A Assembleia Nobel do Instituto Karolinska de Estocolmo, na Suécia, disse que as terapias pela inibição da regulação imune negativa são "um marco" na luta contra o câncer.
As descobertas "transcendentais" feitas por ambos os cientistas "estabeleceram um princípio completamente novo" no campo da oncologia e permitem "aproveitar a habilidade do sistema imunológico para atacar as células cancerígenas", disse a academia em um comunicado.
A imunoterapia, que mira mais especificamente nas células cancerígenas, é considerada uma nova fronteira nos tratamentos contra o câncer. No entanto, ela funciona em aproximadamente 15 a 20% dos pacientes. Os cientistas ainda não sabem exatamente quem vai se beneficiar e o porquê.
Desativando o 'freio' do sistema imunológico
Tanto Allison quanto Honjo estudaram proteínas que impedem que as principais células de defesa do corpo, as células T, ataquem as células cancerígenas.
Quando o sistema imunológico detecta a presença de ameaças no organismo, como vírus e bactérias, estas células se agarram às substâncias exógenas, o que estimula uma resposta imunológica de larga escala.
Diversas proteínas mensageiras também estão envolvidas nesse processo. Algumas potencializam a resposta do sistema imunológico e outras servem como freios, prevenindo uma resposta exagerada.
No caso do câncer, o sistema de defesa do corpo nem sempre consegue identificar os tumores e atacá-los. É neste ponto que os trabalhos dos dois pesquisadores provaram ser revolucionários.
Allison, que tem 70 anos e é professor na Universidade do Texas, estudou no início dos anos 1990 a proteína CTLA-4, que funciona como uma espécie de freio do linfócito T.
Honjo, de 76 anos e professor na Universidade de Kyoto, descobriu em 1992 outra proteína na superfície dos linfócitos T: a PD-1, que também freia as células imunológicas, mas com outro mecanismo.
Desde então, ambos passaram a desenvolver medicamentos que possam inibir a atividade dessas proteínas, estimulando o sistema imunológico a atacar tumores.
As terapias baseadas em suas pesquisas foram "impressionantemente eficientes" e tiveram sucesso no tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer, segundo a Assembleia do Nobel.
Desde então, a CTLA-4 foi usada no tratamento do melanoma (câncer de pele) avançado, enquanto a PD-1 tem sido utilizada contra tumores de pulmão, renais, linfoma e melanoma. Novos estudos indicam que se ambas as terapias forem combinadas, o tratamento pode ser, inclusive, mais eficiente.
As terapias também produzem efeitos colaterais, como reações autoimunes do corpo. Os pesquisadores agora buscam
maneiras de reduzir estes efeitos.
Fonte: BBC Brasil