Os deuses do futebol escrevem certo por chutes tortos. Às vezes eles se sentem obrigados a interferir no jogo quando o pragmatismo dos envolvidos o ameaça de morte por tédio. Foi uma obra do acaso de autoria do volante Luan que finalmente abriu a porta para a emoção entrar na decisão do Campeonato Paulista. Melhor para o São Paulo, que venceu por 2 a 0 no Morumbi neste domingo e acabou com um jejum de títulos que durava nove longos anos, muito para os padrões do tricolor.
- Quero lembrar o ano passado. Estávamos brigando pela Libertadores, e numa partida contra o Palmeiras, a bola bateu em mim e entrou. Chorei muito. Hoje, eu chuto e a bola desviou para entrar. A nossa torcida merece voltar a ser campeã. Uma equipe como o São Paulo não pode ficar tanto tempo sem ganhar títulos - afirmou Luan, volante formado nas categorias de base do tricolor.
Se não fosse pelo desvio do chute em Felipe Melo, que desmontou Weverton, talvez não haveria gol de bola rolando nos dois jogos da final. E assim o Choque-Rei seria privado da injeção de adrenalina que a desvantagem no placar significa para quem foi vazado.
Provavelmente o time mais cerebral do futebol brasileiro, o Palmeiras se viu obrigado a abrir mão do estilo usual, que caminha sobre a linha tênue que separa o jogo seguro daquele que é feio de se ver. Obrigado a atacar, atacou mal e abriu espaços na defesa. Tanto que o São Paulo esteve mais perto do segundo gol do que de levar o empate. Luciano, livre, matou o jogo e mostrou que a impressão era verdadeira.
É o primeiro título de Hernán Crespo à frente do São Paulo. O argentino tem na conquista uma chancela do bom começo de trabalho no Morumbi. Ele leva também o time para próximo de se classificar para as oitavas de final da Libertadores, lugar onde o Palmeiras já se garantiu.
Fonte: Jornal O Globo