No campo da guerra diária deflagrou-se mais uma luta contra a criminalidade e, dessa vez, infelizmente, um dos guerreiros protetores da sociedade sucumbiu.
Em um dia onde tudo parecia caminhar na estabilidade esperada soube que um bando de criminosos armados de malícia, descontrole e poderosas armas de fogo havia assaltado a agência do Banco do Brasil em Itanhém, a minha terra natal. O dia comum logo ficou carregado de um ar acinzentado e melancólico, pois quando um soldado desloca para a guerra, invariavelmente, abre-se uma porta pela qual muitos por ela não voltam.
E assim, na luta voraz contra o crime, o perseverante e nobre soldado, com sede de justiça, Cleber Sousa Costa, de 33 anos, faleceu. O guerreiro perdeu a vida em defesa do bem-estar social, entretanto, no cumprimento do dever, contribuiu para que a honrosa Polícia Militar da Bahia, mais uma vez, ganhasse a batalha.
Após a perseguição e confronto com os assaltantes pelos demais colegas de trabalho fui um dos homens designados para esperar a chegada do helicóptero da Companhia Independente de Policiamento Especializado Mata Atlântica que trazia os dois companheiros feridos. Vestido o manto rajado da Policia Militar o soldado Cleber lutava pela vida com a mesma força que pelejava nos campos de batalha há nove anos. Esses momentos fazem acender em nós a amplitude e a luz de ser militar, pois o mais difícil foi vê-lo desfalecendo nas mãos de quase uma dezena de enfermeiras e do médico Francisco Pacheco, na sala de emergência do hospital de Medeiros Neto. Nessas horas de agonia a vida militar é mesmo dolorosa. Mas ouvir o outro colega Sandro Alves Carvalho, que foi baleado na cabeça, entretanto, me chamar pelo nome trouxe-me, naquele momento de dor, a esperança de que não seriam duas perdas. E não foi. Agradeço a Deus por isso, pois o Criador tem protegido a tropa que luta pela justiça na Terra e tem poupado muitas vidas. Infelizmente perdemos um soldado, mas o que nos conforta é saber que o Criador recebe em seu reino àqueles que lutam em prol do bem da humanidade.
O sargento Alves, que foi meu instrutor no 13º Batalhão de Polícia Militar de Teixeira de Freitas, e que também já não está mais entre nós, me dizia que a farda é um manto sagrado e profetizou que episódios como o que aconteceu nesse assalto a banco na cidade de Itanhém me faria entender que “só guerreiros de verdade e de fé deveriam ostentar o manto que muitos querem, mas não podem” (porque não são dignos), “e que muitos podem, mas não querem” (por medo de perder a vida).
O verdadeiro policial militar não desonra o seu compromisso e tem intrínseco na alma a árdua missão de combater as mazelas e os crimes que assolam a sociedade. Os guerreiros que compõem a Polícia Militar são guardiões da lei e agem com ética, sensatez, fé e esperança.
O jurista Rui Barbosa diz que de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. Os soldados que primam pela vida e combatem a marginalidade, lutam incansavelmente para que os homens tenham segurança, não percam a fé e nem se desanimem da virtude e da honra, afinal muitos guerreiros como o soldado Cleber Sousa Costa lutam contra os maus e dão a vida como escudo nos mais sangrentos combates.
A caminho de uma nova jornada seguiremos como bons soldados na peleja contra o crime. Levaremos na nossa bagagem as boas lembranças e as experiências vividas, afinal, como disse o guerreiro e irmão Cleber Sousa Costa nas redes sociais ao se despedir dos colegas de trabalho da CIPE-Mata Atlântica em razão de ter sido transferido para a CIPE-Litoral: “a amizade não é sinônimo de presença, mas de irmandade eterna”. Ser policial compreende essa forma de coragem, esse estado que enternece o espirito, esse fogo imortal de jamais ter vergonha de não ter lutado.
O soldado Cléber assinala seu nome na história dos heróis que não podem mais lutar efetivamente contra o crime. Ele cumpriu o seu dever e agora descansa em paz.
Edelvânio Pinheiro é jornalista, radialista e militar. É também graduado em Letras Vernáculas.