Autor estranha a atitude. Mas revela que a emissora carioca é citada quatro vezes na publicação que está nas livrarias do mundo. Menos no Brasil

O país acompanhou a Libertadores da América de 2018, pela tevê aberta, até a sua semifinal. Quando o Grêmio caiu diante do River Plate, a Globo não quis saber da decisão da competição.

Só pôde acompanhar a decisão entre Boca e River aqueles que possuem tevê a cabo. De acordo com dados da Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações, 74,6% da população de 220 milhões de brasileiros não possuem esse privilégio. Os dados são de outro de 2018.

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As estatísticas evidenciam a desigualdade. Em São Paulo, por exemplo, 41,8% da população conseguiu ter acesso a tevê a cabo.

Já no Maranhão, apenas 9,6% pagam para ter canais por assinatura. A Globo tem essa filosofia há décadas. Se acredita que a competição esportiva comprada não dará audiência, não mostra.

Não importa se seus telespectadores passaram, como no caso da Libertadores de 2018, de janeiro a dezembro, acompanhando os jogos. A final não puderam ver. E ponto final.

Essa filosofia capitalista vale para todo o grupo fundado por Roberto Marinho. El não é formado apenas pela TV Globo. Há a Infoglobo,a Editora Globo, o Sistema Globo de Rádio, a Som Livre, a Globosat, a Globo.com e o ZAP.

A mesma filosofia de comprar e divulgar o que interesse segue em todo grupo, chamado anteriormente de Organizações Globo.

E até em áreas que muitas vezes passam longe da grande mídia. Como é o caso do livro "Cartão Vermelho: Como os EUA Revelaram o maior Escândalo Esportivo Mundial", de Ken Besinger.

A Editora Globo comprou os direitos da publicação no Brasil. A obra é uma pesquisa sobre a corrupção no futebol.

Detalha os detalhes dos principais envolvidos no escândalo que abalou a Fifa em 2015, com a prisão de vários membros da cúpula da poderosa organização. E obrigou a renúncia de Joseph Blatter.

Por que a Editora Globo comprou os direitos, ainda em 2015, e não publicou o livro?

Ela tem exclusividade no Brasil. Vários países levaram a obra para as livrarias no ano passado. Portugal lançou em junho de 2018. Neste país não há a menor movimentação para que Cartão Vermelho seja publicado por aqui.

Como revela a Folha de São Paulo.

"Dona de direitos de TV de torneios da Fifa, a Globo é citada quatro vezes no livro. Em duas, o grupo aparece quando J.Hawilla é perfilado. O empresário —morto em 2018— foi delator na investigação das autoridades americanas. Ele admitiu ter pago propina para dirigentes na compra de direitos de transmissão de torneios da Fifa e da CBF.

Ao contar a história de Hawilla, o livro cita que ele trabalhou na Globo, primeiro como repórter e depois como chefe do departamento de Esporte da emissora, nas décadas de 1970 e 1980.

Em outro trecho, Bensinger informa o quanto a Globo pagou à Fifa pelos direitos de TV das Copas do Mundo de 2010 e 2014. Segundo o autor, a emissora desembolsou 340 milhões de euros (aproximadamente R$ 1,4 bilhão).

Na quarta referência à emissora, a obra reproduz o depoimento de Alejandro Buzarco, ex-homem forte da companhia de marketing argentina Torneos y Competencias, na Justiça dos Estados Unidos.

Em novembro de 2017, ele afirmou que a Globo e o grupo mexicano Televisa pagaram propina a um dirigente da Fifa durante negociação para compra de direitos de transmissão da Copa do Mundo.

“'Recentemente meu agente ligou para um responsável da Globo Livros, e eles disseram que meu livro menciona a Globo, mas não muito, só um pouco no final. Mas eles disseram que não querem publicar até o caso criminal ser encerrado', disse Besinger." Na entrevista do jornal com o autor do livro há trechos esclarecedores.

"Você cita a Globo no livro. Acha que isso atrapalhou a publicação?

Recentemente meu agente ligou para um responsável da Globo Livros e eles disseram que meu livro menciona a Globo, mas não muito, só um pouco no final. Mas eles disseram que não querem publicar até o caso criminal ser encerrado.

O que te deixou mais chocado?

Não está muito no livro, mas uma das pessoas mais chocantes na coisa toda foi [o ex-presidente da CBF] Ricardo Teixeira. Ele fazia coisas muito ruins, ele se comportava como um criminoso vulgar e ganancioso. O tipo de pessoa que trairia qualquer um para se salvar. Ele era mal-intencionado. Assim como Julio Grondona, ex-presidente da AFA, na Argentina. Teixeira se comportava como um gângster e um ladrão, e Grondona se comportava como um mafioso. Eram praticamente personagens de filme. A forma como exigiam dinheiro das pessoas, intimidavam as pessoas, sua arrogância, esse tipo de coisa.

E nenhum dos dois foi preso.

Teixeira tem uma história interessante. Ele deixou o Brasil em 2012, porque estava sendo investigado em Brasília por causa de uma possível fraude em um amistoso entre Brasil e Portugal em Brasília. Havia todo tipo de dinheiro público envolvido, estava claro que houve uma grande fraude em inflar os custos da coisa toda. E ele recebeu dinheiro do governo. Os promotores abriram um caso para investigar o que aconteceu, e ele deixou o Brasil e foi viver em Miami.

Em 2014, ele voltou ao Brasil, e deu sorte, porque, um ano depois, tudo aconteceu. O Brasil não extradita seus cidadãos, e então ele não foi pego. Ele continua no Brasil, acho que tem uns problemas no rim, mas continua no Brasil. Já Grondona morreu em julho de 2014.

Basicamente Teixeira conseguiu escapar. Eu não sei o que aconteceu com a investigação em Brasília [a Polícia Federal indiciou o ex-presidente da CBF em 2015, mas o caso não andou até hoje].

Quais eram os mais corruptos, segundo os documentos?

 Teixeira era o mais corrupto. Grondona era muito corrupto, algumas pessoas que não vimos na corte também eram muito corruptas. Esses eram os oficiais, Grondona e Teixeira e Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol. Mas não esqueça das pessoas da Concacaf, porque na América do Norte. Teve Jeffrey Webb, Chuck Blazer, Jack Warner. Todos muito corruptos. Então também teve as pessoas que pagavam as propinas. Na Argentina, Alejandro Burzaco [empresário].

No Brasil, J. Hawilla, que também morreu, e era extremamente corrupto." Vale lembrar que a TV Globo foi parte importante do julgamento de vários dirigentes esportivos da Fifa nos Estados Unidos.

Todos envolvidos em corrupção.

Alejandro Burzaco, ex-diretor da empresa de marketing Torneos y Competencias, fez denúncias gravíssimas no seu julgamento. Ele garantiu que a Globo pagou US$ 15 milhões em propinas (cerca de R$ 50 milhões) para assegurar exclusividade na transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030.

O dinheiro teria sido enviado por meio do ex-diretor Marcelo Campos Pinto para a T&T, braço na Holanda da empresa de Burzaco em associação com a brasileira Traffic, de J. Hawilla, e posteriormente repassado para uma conta na Suíça de Julio Gronoda, ex-presidente da Associação de Futebol Argentino e ex-vice-presidente da Fifa responsável por cuidar dos direitos de transmissão para a América Latina.

O dirigente morreu em 2014. A Globo negou as acusações. Marcelo Campos Pinto se aposentou. E nega, de qualquer maneira, ser entrevistado. Não falou uma palavra sobre as graves acusações.

A Ken Besinger a Globo afirmou que publicará o livro assim que o 'caso criminal' for encerrado. Não há, portanto, qualquer previsão. A vida segue. A Globo tem a exclusividade do futebol na tevê aberta. Inclusive na Libertadores da América. E é bom o telespectador saber.

Se chegarem à final duas equipes que não interessarem à audiência, a decisão não será mostrada. É fácil entender porque Cartão Vermelho segue longe das livrarias..

Fonte: r7

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