O feto que pertencia a uma adolescente de 16 anos, que veio a óbito no hospital de Caravelas ao tentar dar à luz no último sábado, 26 de novembro, pode ter sido enterrado ainda com vida. A denúncia partiu de Maria Ferreira Martins, mãe da jovem, confirmando que durante todo o velório a barriga da jovem se mexia como se tivesse vida própria. Familiares e parentes, angustiados com a cena tentaram contatar o hospital municipal, bem como o SAMU, mas as tentativas foram inúteis.
O caso foi encaminhado ao Ministério Público em Caravelas, que deverá instaurar inquérito para apurar a denúncia e punir os possíveis culpados. Se não bastasse a terrível suspeita do feto ter sido enterrado vivo, a história da jovem mãe, Josiele Ferreira, revela os absurdos a que estão sujeitos os usuários da saúde pública em Caravelas, na Bahia e no Brasil.
O caso da jovem de Juerana, que precisa ser investigado pela polícia, vai se somar às estatísticas do descaso, da má qualificação e da irresponsabilidade tão comuns nos atendimentos médicos no país. Por isso, os familiares e amigos da vítima continuam revoltados com o fato e pedem justiça.
Às vésperas de dar à luz, na manhã de sexta-feira 25 de novembro, Josiele acordou sentindo fortes dores, foi ao posto de saúde, onde foi atendido pelo médico Ailton que pediu que a jovem voltasse para casa, pois não teria o bebê naquele dia. À tarde, as dores aumentaram e a família a levou para o Hospital de Caravelas, localizado na sede do município.
A mãe de criação e avó de jovem, dona Maria Ferreira Martins, foi quem a acompanhou ao hospital. “Cheguei com minha neta no hospital no início da noite de sexta-feira. A pessoa que atendeu disse que ela não poderia ter parto normal, que o parto teria que ser cesariana. Então, passamos a noite e a médica, Alba Marli Pereira dos Santos, às vezes aparecia no quarto, outras vezes não. Quando eu procurava por ela, a enfermeira dizia que estava descansando. Minha neta continuava sofrendo, gritava por socorro, pedia que eu a ajudasse, e eu ali sem nada poder fazer”.
Já no sábado 26, a avó perguntou o motivo pelo qual neta ainda não havia sido transferida para Teixeira de Freitas, onde poderia receber um atendimento mais especializado, responderam que não tinha vaga. “Minha neta já estava sendo torturada. Eles forçavam ela a ter parto normal.”
Ao meio-dia, veio a notícia de que havia surgido uma vaga no hospital de Teixeira de Freitas. A médica Marli, no entanto, disse que não havia necessidade de transferência, pois Josiele já estava próxima de ter a criança. Dona Maria contou que da sala ouvia os gritos da neta, que no desespero socava as paredes e pedia por socorro. “Enfermeiros, enfermeiras e a médica seguravam a jovem mãe pelos braços e pernas.”
Proibida de entrar no quarto onde a jovem estava, dona Maria acompanhava apreensiva a correria que começou já no meio da tarde de sábado, tentando descobrir o que estava acontecendo. Por fim, descobriu que a neta havia sofrido uma parada cardíaca, e seria transferida para Teixeira de Freitas. Conseguiram a ambulância tarde demais, ocasionando a morte de Josiele em meio a estrada.
Segundo dona Maria, jovem estava cheia de hematomas, toda roxa, como se tivesse sido torturada por quase dois dias. E desabafou: “Eles forçaram ela demais, mesmo sabendo que ela não tinha condições de ter parto normal. Aquilo foi um assassinato assistido, ela morreu sendo torturada, e isso dentro de um hospital”.
Fonte: Teixeira Notícias